domingo, 30 de setembro de 2012

MEXICANOS CONTRA O MILHO TRANSGENICO




O México é o centro de origem do milho. Sua história e cultura sempre foram ligadas a ele. O milho é considerado como um elemento fundamental da civilização mesoamericana. Por mais de 500 anos tem mais resistência dos povos indígenas e camponeses que lutam diariamente contra a imposição de um sistema baseado na lógica pura de capital. Isto é, modelos  agroindustriais  que nada têm a ver com as nossas comunidades de milho.

Mesmo com a colonização, não há clara identidade de nossos povos, enraizados com a comida de nossos antepassados. Hoje, 29 de setembro, as diversas organizações que compõem a campanha Sem Milho Não Há País  celebram o milho  dos povos mesoamericanos. Com isso está  explicitada a necessidade de proteção abrangente do nosso milho, e esta data representa a defesa de nossos campos de milho, nosso campo e nossos milhos. Os mesmos que usaram os deuses mesoamericanos para formar os  homens e as mulheres nestas       terras férteis.

Este  Dia Nacional do Milho tem um tom de exigência e total desacordo com as políticas implementadas pelo atual governo mexicano, pois têm emitido licenças, tanto em  fase experimental, como em  fase piloto, prévia da fase comercial, para o  cultivo do milho GM. O governo tem sido negligente em seu dever de proteger o direito das pessoas a uma alimentação adequada e segura, já  que o uso de sementes de milho transgênicos  causa danos irreversíveis ao meio ambiente e à integridade física de todos e os mexicanos.



Recentemente, na verdade, se publicou um estudo realizado na Universidade de Caen, França, liderada pelo cientista Gilles-Eric Seralini, o qual  mostrou que o uso de milho transgênico na dieta dos organismos vivos é prejudicial para a vida. Que foi revelado por um experimento com ratos, que, após dois anos de ser alimentados de milho geneticamente modificado, apresentaram tumores irreversíveis e morreram. Isso provocou críticas a favor e contra. A comunidade científica internacional pediu que o estudo seja repetido, o que implicaria  investir dois anos para sua comprovação, pois os críticos de Séralini observam erros  na metodologia implementada.

Enquanto isso está acontecendo, no México não podemos deixar de mencionar a irresponsabilidade do governo de continuar a conceder licenças para o plantio de milho transgênico, pois enquanto não  demonstre  que  não causa danos à saúde,  deve parar e suspender qualquer licença emitida. Não deve ser livre para proceder de acordo com uma racionalidade mercantilista na alimentação , nem  agir com base  nos interesses das grandes corporações internacionais que, gradualmente, procuram dominar a produção de grãos no mundo.


 A atual administração, em 2012, já  concedeu  mais 15 permissões  para o plantio de milho  GM em  fase experimental, o que traz riscos, uma vez que com estes métodos vão contaminar as  raças crioulas conservadas no México. Com base nas políticas agrícolas inspirados pelo neoliberalismo, e incorporadas no Tratado de Livre Comércio , a tendência do atual governo é desregulamentar a produção de milho transgênico, causando perda de soberania alimentar, para a nossa terra e o plantio de milho cairam  nas mãos de corporações transnacionais, como a Monsanto e Syngenta.


Neste cenário, o governo também tem favorecido as importações de grãos. Até agora, este ano, e pondo de lado a produção de campo nacional, entraram  em nosso país 13 milhões de toneladas de milho. Os camponeses e camponesas , observam  como as suas culturas são embodegadas, porque eles não podem competir com os grandes  capitais  agroindustriais. O governo se esquece que a chave para alcançar a segurança alimentar é garantir que a produção de milho está ligado ao respeito pelo povo, e incentivar o campo mexicano a produzir alimentos e o  milho que o México precisa. Se assim não for , e continuar a tendência de  liberalizar o plantio de milho GM, serão violados territórios e aldeias ancestrais que conservaram  o milho  no seio de suas culturas, e se  violentará também o direito de todas as pessoas a uma alimentação saudável e adequada.

Mais de 300 organizações que compõem a campanha Sem Milho Não Há País busacam neste Dia Nacional do Milho se pronunciar  contra os transgênicos, contra o esquecimento do campo e contra a colonização e exploração da natureza. Também expressam seu apoio  à divulgação e implementação de modelos agroecológicos baseadas no respeito a terra ,a soberania alimentar, e o exercício do nosso direito à alimentação consagrado na Constituição.

O milho livre de transgenicos  é o maná que vem das origens da América. É a identidade para milhões de pessoas que todos os dias se  alimentam dele  e nós reconhecemos como uma grande comunidade, quando compartilhamos a pamonha e a tortihla. Não necessitamos  de milho transgênico que prejudica a nossa saúde, prejudicando a nossa terra, e as nossas tradições de conservação  e com o cuidado  do milho, pequeno ecossistema  sustentável e suficientes para a produção de alimentos no Mexico. É fundamental que o Estado cumpra suas obrigações de respeitar, promover, proteger e garantir o direito à alimentação de todas as pessoas que vivem ou transitam  pelo  nosso país.
 Fonte: rebelion.org
Tradução e adaptação: Valdir Silveira

sábado, 29 de setembro de 2012

ESTUDO DE SÉRALINI COLOCA MONSANTO NA DEFENSIVA




A Monsanto lançou uma ofensiva através do seu departamento de  relações públicas para tentar difundir  dúvidas sobre um estudo publicado há dois dias pelo cientista francês Gilles-Eric Seralini. O estudo mostra que o Roundup, o herbicida desta emblemática gigante da  biotecnologia e o milho NK603, variedade transgênica produzida pela empresa, estão causando efeitos devastadores sobre a saúde dos ratos estudados ao longo de sua vida.

Através de um correio eletrônico, um executivo da Monsanto distribuiu uma lista de reações  de cientistas "independentes" , da "Science Media Centre", com sede  em Londres . Com o título  de  “Reação de especialista ao milho transgênico que causa tumores em ratos", o Science Media Centre  inclui oito reações de cientistas  contra o estudo, assim como dez  argumentos anônimos em torno do mesmo assunto.

Tal como esperado, todas as reações são  depreciativas ao estudo. Segundo Spinwatch, 70% do financiamento da Science Media Centre  vem de corporações e a lista de patrocinadores inclui a maioria dos figurões da indústria    de       biotecnologia
O nome do cientista francês Gilles-Eric Séralini chegou as manchetes graças  ao seu revolucionáriuo  estudo  sobre  ratos alimentados com milho transgênico NK603 da Monsanto  projetado para resistir ao herbicida Roundup , documento  publicado na revista científica Food and Chemical  Toxicology. "O estudo mais longo e  detalhado já realizado sobre um herbicida e um organismo geneticamente modificado", comentou  ontem Séralini, numa conferência  no Parlamento Europeu,  ao analisar  os efeitos tanto do milho transgênico, como Roundup em ratos.ORoundup é o herbicida  mais vendido no mundo.
Os resultados do estudo são impressionantes. Não só os ratos testados com Roundup morreram mais cedo do que aqueles do grupo de controlo como desenvolveram  tumores e doenças graves renal e hepática, além disso, os ratos que foram alimentados exclusivamente com milho GM, também desenvolveram         tumores.

É surpreendente que o financiamento inicial para o estudo de Séralini vem da CERES , uma associação financiada por grandes supermercados franceses; desconfiados dos estudos oficiais e da possibilidade de um novo escândalo de saúde pública de grandes proporções como o da vaca louca, decidiram  viabilizar  recursos suficientes para ter uma avaliação confiável dos riscos. As  publicações  sobre a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar  (EFSA), durante o último ano,  têm mostrado a maneira como as indústrias de biotecnologia e agrotóxicos tem conseguido  influir na  "supostamente voz independente da ciência" na  Europa. Muitos especialistas  tiveram conflitos de interesse e isto afetou a pertinência das orientações sobre  a avaliação de riscos.

Exemplo? O mesmo  milho transgênico referido no documento do professor Séralini recebeu  de luz verde da EFSA para uso alimentício de  animais e seres humanos na Europa em 2004 e para seu cultivo na UE em 2009. As reações da EFSA fundamentou  sua avaliação em um número limitado de estudos em ratos testados durante o curto período de apenas 90 dias. Séralini diz que em suas novas pesquisas, na maioria dos tumores nos ratos estudados não apareceram  antes de transcorrido um ano.  Mais da metade dos especialistas do  painel para OGM que assinaram  a aprovação deste milho GM tinham ligações com a indústria, isto é, os conflitos de interesse, tal como definido pela OCDE.Durante sua conferência, Séralini questionou a "competência  e até mesmo a honestidade" dos ditos especialistas  da            EFSA.
Fonte: rebelion.org
Tradução e adaptação: Valdir Silveira
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

FILME INCITA ÓDIO AO ISLAMISMO

CHOMSKY CLASSIFICA DE ODIOSO O FILME ANTIISLÂMICO


O linguista, filósofo e ativista Noam Chomsky Afirmou, recentemente, que o filme antislámico produzido  nos EUA viola a lei internacional e da Declaração Universal          dos     Direitos          Humanos.
Durante uma entrevista com a agência de notícias iraniana Mehr, Chomsky qualificou de odiosa a produção e difusão do filme blasfemo: A inocência dos muçulmanos”, dirigida por um israelense-americano, e disse que esta insultante  medida           está    provocando   muitos            protestos.

Quanto à opinião de alguns americanos sobre a legalidade deste filme, apesar de sua imoralidade, o filósofo norte-americano disse que "a produção deste filme repugnante, não só não é um sinal de liberdade de expressão, mas sim mostra o ódio e uma certa atitude      agressiva”.

O antislámica filme, segundo Chomsky, contradiz o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em todo o respeito pelos direitos dos outros, bem como garantir a segurança e a ordem.

"A liberdade de expressão não é um direito ilimitado, e na Europa e outras partes do mundo, há regras que restringem este direito", disse ele.

Sobre reações ao filme  nos EUA, o ativista americano expressou sua esperança de que as autoridades dos EUA que condenaram   o filme, o tenham feito de forma  honesta para que., pelo menos, não ajam sob o marco do engano,uma     atitude que normalmente    adotam.

A ira do mundo islâmico em relação ao filme “A inocênciados mulçumanos” se intensificou  após o semanário satírico francês Charlie Hebdo ter publicado  uma série de charges que profanarm a figura do profeta do Islã, Hazrat Maomé.

Fonte: rebelion.org
Tradução e adaptação: Valdir Silveira

Já pensaram, se algum islamita ou outro produtor do mundo árabe tivesse produzido um filme antijudáico, que estardalhaço não estava fazendo a mídia internacional e nacional? Mas como a grande maioria da mídia internacional e nacional é racista e anti povos do terceiro mundo, ficam calados e ainda criticam a reação, justificável e justificada, dos mulçumanos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

MANDELA TAL QUAL GHANDI: A VIOLÊNCIA CONTINUA


O apartheid na África do Sul não morreu

John Pilger
24.Set.12 :: Outros autores
A teoria racista do “desenvolvimento separado” seguiu uma linha que vai dos primeiros monopólios da De Beers até à Marikana de hoje. Inspira-se numa ordem global dos “livres mercados” mantida pela força.

O assassínio de 34 mineiros pela polícia sul-africana, a maioria atingida pelas costas, acaba com a ilusão da democracia pós-apartheid e revela o novo apartheid mundial do qual a África do Sul é modelo tanto histórico como contemporâneo.
Em 1984, muito antes da infame expressão afrikaans antecipar “desenvolvimento separado” para a maioria do povo da África do Sul, um inglês, Cecil John Rhodes, supervisionou o Acto Glen Grey na então Colónia do Cabo. Fora ele preparado para forçar os negros da agricultura a formarem um exército de mão-de-obra barata, principalmente para as minas de oiro recentemente descobertas e outros minerais preciosos. Como resultado deste darwinismo social, a empresa De Beers de Rhodes desenvolveu-se rapidamente num monopólio mundial, tornando-o fabulosamente rico. Alinhando com o liberalismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, foi celebrado como um filantropo apoiante de causas nobres.
Hoje, a bolsa Rhodes na universidade de Oxford tem prestígio entre as elites liberais. Os bolseiros Rhodes vencedores devem demonstrar “força de carácter moral” e “simpatia pelos fracos e sua protecção, gentileza, modéstia e camaradagem”. O antigo presidente Bill Clinton foi um deles, o general Wesley Clark que dirigiu o ataque da Nato à Jugoslávia foi outro. O muro conhecido por apartheid foi erguido para benefício dos poucos pelo menos mais ambiciosos da burguesia.
Linha de Transmissão
Foi uma espécie de tabu durante anos de apartheid social. Os sul-africanos de ascendência britânica podiam gozar de indulgência pelo seu desprezo pelos boers, desde que mantivessem a fachada atrás da qual um sistema inumano garantia privilégios com base na raça e, mais importante ainda, na classe.
A nova elite negra na África do Sul, cuja importância e influência tinham vindo a crescer consistentemente durante os últimos anos do apartheid racial, compreendeu que papel tinha a desempenhar a seguir à “libertação”. A “missão histórica” de tais elites, segundo escreveu Frantz Fanon em “Os Condenados da Terra”, “não tem nada a ver com a transformação do país, consiste prosaicamente em constituir a linha de transmissão entre o país e um capitalismo imparável, ainda que camuflado”.
Isto aplicado a figuras de proa do Congresso Nacional Africano (ANC), como Cyril Ramaphosa, dirigente da União Nacional dos Mineiros e hoje empresário milionário, que negociou um acordo de partilha de poder com o regime de F. W. de Klerk e com o próprio Nelson Mandela, cuja devoção a um “compromisso histórico” assegurou que a libertação da pobreza e iniquidade para a maioria fosse demasiada libertação. Tornou-se isto claro logo em 1985, quando um grupo de industriais sul-africanos encabeçados por Gavin Relly, presidente da empresa mineira Anglo Americana, se encontrou com proeminentes funcionários do ANC na Zâmbia, concordando ambas as partes efetivamente que o apartheid racial seria substituído por um apartheid económico, conhecido por “livre mercado”.
Tiveram lugar depois encontros secretos numa imponente mansão em Inglaterra, a Mells Park House, na qual um futuro presidente de uma África do Sul libertada, Thabo Mbeki, beberricou whisky de malte com os presidentes de empresas que tinham sido a base do apartheid racial. O gigante britânico Consolidated Gold Fields forneceu a reunião e o whisky. O objetivo era separar os “moderados”, como Mbeki e Mandela, de uma multidão das cidades crescentemente revolucionária, que evocava memórias de levantamentos a seguir ao massacre de Sharpeville em 1960 e no Soweto em 1976 sem a ajuda do ANC.
Uma vez Mandela libertado da prisão em 1990, a “promessa inquebrantável” do ANC tomar o controlo do capital monopolista foi raramente ouvida depois disso. Na sua volta triunfante pelos EUA nesse verão, Mandela disse em Nova Iorque: “O ANC reintroduzirá o mercado na África do Sul.” Quando entrevistei Mandela em 1997, com ele então presidente, e lhe lembrei a promessa inquebrantável, ouvi em termos sem ambiguidade: “A política do ANC é a privatização.”
Envolvidos no ambiente cálido da linguagem empresarial, os governos de Mandela e Mbeki seguiram as pistas indicadas pelo Banco Mundial e pelo FMI. Enquanto o fosso entre a maioria a viver sob telhados de zinco e sem água corrente e a elite negra nova-rica nas suas propriedades vedadas se tornou um abismo, o ministro das finanças Trevor Manuel era elogiado em Washington pelos seus “resultados macroeconómicos”. Segundo apontou George Soros em 2001, a África do Sul tinha sido entregue nas “mãos do capital internacional”.
Pouco depois do recente massacre dos mineiros, contratados por uma miséria numa perigosa mina de platina registada no Reino Unido, a erosão da independência económica da África do Sul ficou demonstrada quando o governo do ANC de Jacob Zuma parou a importação do Irão de 42 por cento do seu petróleo, sob intensa pressão dos EUA. O preço da gasolina já subiu a pique, empobrecendo ainda mais o povo.
Mal menor
Este apartheid económico repete-se agora através do mundo à medida que os países pobres aceitam exigências dos “interesses” ocidentais opostas aos seus próprios. A chegada da China como concorrente aos recursos de África, embora sem as ameaças económicas e militares dos EUA, deu mais um pretexto para a expansão militar dos EUA e a possibilidade de guerra mundial, conforme demonstrado no recente orçamento militar de Obama de 737,7 mil milhões de dólares. O primeiro presidente afro-americano da terra da escravatura preside a uma economia de guerra perpétua, de desemprego em massa e de liberdades civis eliminadas: um sistema que não põe objecções a negros ou castanhos desde que sirvam a classe certa. Os que não aceitam sujeitam-se ao cárcere.
Esta é a via sul-africana e americana, da qual Obama, filho de África, é a corporização. A histeria liberal de que o candidato presidencial republicano Mitt Romney é mais extremista que Obama não é mais que a conhecida promoção do “menor-malismo” e não muda nada. Ironicamente, a eleição de Romney para a Casa Branca é susceptível de despertar a oposição de massas nos EUA, cuja extinção tem sido o singular êxito de Obama.
Embora Mandela e Obama não possam ser comparados – um é uma figura de forte personalidade e de coragem, o outro uma criação pseudo-política – a ilusão de que ambos acenam a um novo mundo de justiça social é semelhante. Pertence a uma grande ilusão que relega toda a aventura humana a um simples valor material e que confunde media com informação e conquista militar com fins humanitários. Só quando derrotarmos estas fantasias começaremos a acabar com o apartheid pelo mundo.
O filme de John Pilger, “Apartheid Did Not Die” (1998) (O apartheid não morreu) está disponível em johnpilger.com.
Publicado em 20 de Setembro de 2012 : http://www.newstatesman.com/world-affairs/world-affairs/2012/09/apartheid-didn%E2%80%99t-die-south-africa
Tradução: Jorge Vasconcelos

MÂES ARGENTINAS EM GUERRA CONTRA MONSANTO

SOFIA GATICA: GUERRA DE UMA MÃE CONTRA A MOSANTO

Não  era uma advogada  de prestígio,  nem  praticava o  ativismo ambiental. Tampouco  tem curso  superior ou conhecimentos sobre química  ou ciências biológicas. Sofia Gatica é, simplesmente,  uma mãe Argentina que quando  perdeu uma filha logo após o nascimento por uma súbita crise renal  decidiu averiguar  o porquê. Desde então, há quase 13 anos, começou uma luta para acabar com as pulverizações sobre os campos de plantações de soja em torno de  Ituzaingó, um distrito da província de Córdoba (Argentina), com centenas de        casos semelhantes  ao       seu.

Suas reivindicações a  fizeram vencedora do prêmio Glodman 2012, considerado o Nobel do Meio Ambiente. Ela fundou, juntamente com outras vizinhas afetadas, o grupo "Mães de Ituzaingó"  e visitou o município de porta em porta para documentar e demonstrar os efeitos adversos para a saúde de glifosato, herbicida mais vendido do mundo , comercializado  pela multinacional  Monsanto. Os resultados destacam dados alarmantes: crianças com malformações, problemas respiratórios e renais, lupus, problemas na pele, leucemia e uma alta porcentagem de pessoas afetadas pelo câncer (cerca de 300 em uma população de apenas 6.000 habitantes).


"O problema é o grande negócio que há por  trás", diz Sofia   Gatica  em turnê pela Europa para contar sua história e reunir-se com  outros grupos de ambientalistas  na Good Food March (Marcha por Bons Alimentos), realizada em Bruxelas, para protestar contra o impacto das políticas agrícolas na sociedade.

De fato, o cultivo desta leguminosa está se movendo em um círculo fechado. Cerca de 80% das terras agrícolas na Argentina são dedicados ao cultivo de soja transgênica, ou seja, a soja, cujas sementes foram geneticamente modificadas para torná-las resistentes ao glifosato ou Roundup, como é vendido no mercado. Tanto  as sementes como  o agrotóxico que deve  tratá-las  são de propriedade da companhia norte-americana Monsanto.

"À medida que crescem as plantações de soja e as  fumigações,  aumentam as  malformações nas crianças. Alé disso, a quantidade de glifosato necessário para tratar culturas aumenta o desenvolvimento de resistência nas plantas ", diz Maria Godoy, outra 'das mães' que acompanha Gatica em sua mobilização.

Entre outras coisas, ambas se cruzaram para este lado do Chaco  para  alertar sobre  os "riscos" dos transgenicos, um problema com fortes posições contraditórias dentro da comunidade. Embora rejeite o cultivo esses alimentos tem crescido em grande parte da Europa. Na Espanha não só tem aumentado o número de hectares dedicados a organismos geneticamente modificados (OGM), mas também  as contas para a grande maioria dos agricultores. De acordo com o Ministério da Alimentação, Agricultura e Meio Ambiente, dos 114.624 hectares de  culturas GM na Europa, 85% (97.326 hectares) são  espanholas. Em todos se cultivam a variedade de milho MON810, também da empresa  Monsanto,  também questionado por vários estudos independentes,
entre eles o patrocinado  pelo Ministério do Meio Ambiente e Saúde da Áustria, que evidenciou problemas significativos na diminuição da fertilidade em ratos alimentados com            esta    variedade      de       milho.

De qualquer maneira , embora a área de lavouras GM na Europa represente apenas 0,1% da superfície agrícola total, a importação de tais produtos, especialmente a soja transgênica, a maioria dedicada à produção raçõespara gado,  é medida em milhões de toneladas. "A UE importa toneladas e toneladas de soja transgênica envenenada  da Argentina para consumo  animal . E esses animais são consumidos por todos os habitantes da Europa e, eventualmente, terá os mesmos efeitos que nós estamos tendo", denuncia Gatica.

A Espanha representa 85% dos cultivos transgênicos que há na UE.

A dependência da Europa em cultivos transgênicos de outros países é enorme. De acordo com a Federação Europeia de Fabricantes de Alimentos (FEFAC), 68% da matéria-prima de proteína utilizada na alimentação animal na UE é composto de farelo de soja. Apenas 2% é produzido dentro das fronteiras da UE. O restante é importado, principalmente da Argentina (51%).

"Aqui e ali, estamos lutando pela mesma coisa, que não nos imponham o que comer, que os cultivos sejam dos agricultores, dos  pequenos produtores e não das multinacionais. Esta acontecendo um genocídio acobertado  em todo o mundo. Estão mataando  pessoas , destruindo o planeta e ninguém diz nada ", lamenta.

O glifosato não é proibido na União Europeia, embora faça parte  da lista de substâncias químicas que  serão revistas em 2015. Por causa da controvérsia gerada por este produto, a Monsanto destinou espaço em seu site para refutar a alegada toxicidade agroquímico. Ela diz que "o  herbicidas à base de glifosato  estão entre os de menor risco em relação aos seus efeitos sobre a saúde eo meio ambiente." Por causa de sua baixa toxicidade, ela acrescenta, "é um herbicida utilizado com sucesso em mais de 140 países do mundo por 30-40 anos, e sua segurança já foi confirmada por organizações internacionais, como a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) e por sua inclusão no anexo I da Diretiva 91/414/CEE (Comunidade Européia). "

Apesar de muitos estudos realizados em Ituzaingó por pressão coletiva dos vizinhos, a pulverização massiva perto de áreas povoadas não estão proibidos em todo o país. Um relatório de 2009 encomendado pela presidente Cristina Fernández revelou que só neste pequeno bairro de Córdoba 33% da população morre de câncer e que aproximadamente 80% das crianças tem de  6 a 7 tipos de substâncias agroquímicas no sangue. Entretanto, apenas algumas diretrizes a nível local e provincial limitam estas práticas. Gatica e as  outras 'mães' lutam para aprovar uma lei com  vigência  para todo o Estado, onde se estima que cerca de 12 milhões de pessoas estão em risco de contaminação.
 Fonte: rebelion.org
Tradução e adaptação: Valdir Silveira

AGRESSÃO À MAOMÉ É SÓ A PONTA DO ICEBERG DA INDIGNAÇÃO


Xenofobia, fascismo y poder
Barómetro Internacional


Una ola de indignación recorre el mundo musulmán y ya ha dejado como consecuencias la muerte de un embajador norteamericano y varias personas más. La presentación de un video de autor prácticamente desconocido titulado “La inocencia de los musulmanes”, burlándose ferozmente del profeta Mahoma y de sus ideas, ha despertado múltiples protestas en todo el Oriente Medio y demás áreas de presencia musulmana. Esto ha servido nuevamente para dar pie a la matriz de opinión de la intolerancia y el fanatismo islámico, reflejada por las cadenas corporativas de medios de comunicación. Lo cierto es que la progresiva derechización de los poderes en Occidente, producto sobre todo de la profundización de la grave crisis económica, de los reiterados fracasos militares, de los cada vez mayores problemas sociales en los países centrales, encuentra siempre un buen chivo expiatorio en el Islam, con el cual distraer a sus ciudadanos de los problemas cotidianos crecientes. Agregado a que esto justifica las constantes agresiones al área de estratégica importancia geopolítica y de recursos naturales energéticos del Medio Oriente y aledaños.
El auge progresivo de la ultraderecha, que va tomando cada vez mayor poder dentro de la crisis y que es siempre xenofóbica, fomenta este tipo de acciones. El video referido ha sido complementado en estos días con una serie de caricaturas burlescas editadas por la prensa francesa, que sólo contribuirán a agravar el proceso, tanto así que ya el gobierno francés previendo la reacción ha cerrado consulados y representaciones diplomáticas en países islámicos.
Se produce así una aceleración de la espiral del odio, las indignadas reacciones del Islam (que frente a estas provocaciones llega a olvidar sus profundas diferencias internas reaccionando homogéneamente) servirán otra vez como una “prueba” de la intolerancia de unos fanáticos que no entienden la “democracia” ni la “libertad de expresión” y avivarán nuevas respuestas de hostilidad por parte de la derecha de occidente.
Arnold Toynbee, el fallecido historiador inglés, dedicó la mayor parte de su obra a estudiar las civilizaciones en la historia humana. Dentro de esos estudios incluyó los ejemplos de enfrentamientos entre civilizaciones. Al respecto del conflicto de Occidente y el Islam, lo oímos decir en una conferencia allá a principios de los años sesenta del siglo anterior, que todavía era muy pronto para saber como se dilucidaría el enfrentamiento. Decía que en los últimos siglos Occidente había avasallado al Islam, y que cuando eso sucedía en la historia entre dos civilizaciones, existían varias alternativas posibles. Una de ellas era que el Islam desapareciera frente a la arremetida de Occidente. Otra era que se adaptara e influyera culturalmente en su agresor. Y otra finalmente era que tuviera una recuperación desde sus cenizas y elaborara una inusitada respuesta de fuerza.
Samuel Phillips Huntington, desde una perspectiva totalmente ideológica de derecha, se consideró como discípulo de Toynbee y elaboró el modelo que hoy se conoce como el “choque de civilizaciones”, colocando el enfrentamiento como inevitable y proporcionando un modelo teórico que justificara la necesidad de Occidente de acabar no solo con el Islam, sino con el resto de las otras civilizaciones que todavía existen (incluyendo nuestras culturas “periféricas”). Estaba desarrollando un justificativo teórico moderno para la expansión imperial (no es casualidad que haya trabajado siempre para el gobierno norteamericano, llegando a ser asesor presidencial de Lyndon Johnson y defender los bombardeos a las zonas rurales de Vietnam).
En definitiva, que estos sucesos son un producto que parece casi inevitable de la situación de crisis, poder y ascenso progresivo de la barbarie a nivel de los grandes poderosos, cuando ven trastabillarse su hegemonía.
El saldo no puede ser otro que negativo. Por un lado aumentará la violencia desde el lado del Islam, dando así el pie para que conduzcan la respuesta los sectores más radicales, amparados en la provocación y la falta de respeto a sus creencias. Por el otro lado, seguirá proporcionando a las derechas occidentales el justificativo para combatir y cercar cada vez más al Islam (utilizando la política de aquel viejo proverbio francés que dice “Este animal sí que es impertinente, uno lo ataca y él se defiende”).
Más leña a la hoguera de un panorama global convulsionado y caótico, en el que estamos viviendo momentos de grandes cambios. Solo queda esperar que finalmente terminen siendo para bien de todos, a pesar de su rostro feroz.
Fonte:www. rebelion.org    

EUA ACUSA BRASIL DE PROTECIONISMO


Que moral tem os EUA para acusar algum país de protecionista? Esses corsários do século XXI são os maiores protecionistas dos seus interesses no mundo. Além de protecionistas,  os governos dos EUA comportam-se com verdadeiros piratas, bandidos que saqueiam os povos do terceiro mundo, que lançam bombas, que incendeiam e destroem hospitais, pontes e matam crianças e idosos como o fizeram no Iraque e na Líbia e continuam fazendo do Afeganistão. Além disso não respeitam as tradições religiosas dos povos como o fizeram recentemente em relação a Maomé. A presidenta Dilma tem que aproveitar o seu discurso na abertura dos trabalhos da ONU e fazer uma grande reprimenda a esses Corsários do Século XXI: os EUA.

domingo, 23 de setembro de 2012

A FAO A SERVIÇO DA GRILAGEM


 FAO e BERD promovem uma agricultura que destrói a agricultura camponesa?


Espanto e indignação nos causou o artigo com  assinatura de José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, e Chakrabarti Suma, presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, publicado em 06 de setembro pelo Wall Street Journal. Nesta publicação ambas as autoridades convocam os  governos  do mundo para abraçar o setor privado como motor e líder de poder global.
 Embora se referindo especificamente  a Europa Oriental e Norte da África, os diretores de ambas as instituições internacionais também fazem um chamado para que os investimento e a grilagem de terras se generalizem  para todo o mundo. Como justificativa, qualificam o setor privado  como eficiente, dinâmico e os convocam à  dobrar seus investimentos  em grilagem de terras, enquanto aponta para o setor camponês e as poucas políticas de proteção  que ainda regem a agricultura , como um fardo que não permite  avançar  o desenvolvimento da agrícola  e que deve ser eliminado. Para isso, apelam aos governos para facilitar a grandes empresas privadas na agricultura. Isso no contexto de uma chamada  do Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva que qualificou  o encontro como a maior e mais importante das reuniões de empresas e representantes do agronegócio com representanrtes de instituições públicas e  internacionais, incluída  a FAO e  que foi realizado na Turquia no dia   13       de       setembro.

Os Srs. Graziano da Silva e Chakrabarti fizeram, no artigo,  uma série de afirmações preconceituosas e que  escondem a real situação da agricultura e alimentação. Apresentando a  Rússia, a Ucrânia  eo Kasakhstan como exemplos de sucesso do agronegócio que permitiram a estes países a deixar de ser "as terras baldias dos 90" , a ser atualmente  " os grandes exportadores de grãos,"  não mencionam em nenhum momento que os números oficiais mostram que nos tres  países mencionados a produtividade  é muito maior em terras rurais nas mãos dos camponeses que aquelas nas  mãos do agronegócio.. 

Os pequenos agricultores da Russia  produzem  mais da metade do produto agrícola com apenas um quarto da área agrícola, na Ucrânia são a fonte de 55% da produção agrícola com  apenas 16% da terra, enquanto no Cazaquistão entregam  73% da produção agrícola com apenas metade da


terra. Na verdade,  são os pequenos produtores e especialmente as mulheres, que alimentam a população desses países. Tampouco  mencionam que - quando há dados oficiais a respeito, como na UE, Colômbia e Brasil -  é mostrado mais uma vez que a agricultura camponesa é mais eficiente e mais

produtiva do que a empresarial, o que também foi confirmado por diversos estudos na Ásia, África e América Latina.

 

Isso mostra que ao contrário do que é indicado pelo Diretor-Geral da FAO, quem tem a real capacidade de alimentar o mundo são mulheres agricultoras e agricultores em todo o mundo. O avanço do agronegócio apenas exacerbou a pobreza, destruiu a capacidade da agricultura para fornecer trabalho, aumentou a poluição e a destruição do meio ambiente, trouxe de volta o flagelo do trabalho escravo etem provocado as crises alimentares e climáticas das últimas décadas. .

Para os movimentos sociais e as camponesas e camponeses do mundo é inaceitável e até inexplicável que o Director-Geral da Organização para a Alimentação e Agricultura promova a destruição da agricultura camponesa e avanço da grilagem de terras. É particularmente grave que isto ocorra  depois de três anos de arduo trabalho no qual as organizações  colocaram  todas as suas habilidades e vontades para a construção de diretrizes voluntárias para os proteger contra a grilagem de  terras  e depois que  o Sr. Graziano da Silva, durante sua campanha a Diretor Gerral,  expressou  várias vezes ante as organiozações camponesas  seu compromisso de promover e validar a importância da agricultura camponesa e sua necessária participação na produção      de       alimentos.

Nos  espanta a  linguagem ofensiva dos Srs. Graziano da Silva e Chakravarti, c quando se referem  a "fertilizar as terras  com dinheiro" ou "tornar a vida mais fácil para os famintos do mundo." Isso nos leva a questionar a capacidade da FAO para fazer o seu trabalho com o rigor necessário e independência frente as grandes empresas do agronegócio e assim cumprir o mandato da ONU para erradicar a fome e melhorar as condições de vida dos povos do campo.


Perguntamos qual  é realmente a validade do "Ano Internacional da Agricultura Familiar", se o diretor-geral da FAO estima que o que coloca um freio na produção agrícola são os  "níveis relativamente elevados de protecção, a falta de irrigação, pequenas propriedades e anti-econômicas”. Esta visão e a  subordinação da FAO aos mecanismos econômicos e aos  interesses de investidores gananciosos certamente coloca um fim ao trabalho de reconciliação entre as organizações de agricultores e a FAO que temos  feito nos últimos anos. E isso nos faz perguntar por que a FAO não desenvolveu uma proposta de ação real e eficaz para proteger a produção camponesa e familiar, como uma ferramenta fundamental contra crise alimentar que -  hoje de novo -  está enriquecendo os grandes bancos e  corporações multinacionais. Também nos  perguntamos  onde irão as famílias camponesas se este programa de conversão para a agricultura industrial centrada em mega-fazendas é realizado?
 


As ameaças não surgem só do abandono da FAO  de sua missão. Também é grave que o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento promova e invista na grilagem de terras e a entrega da agricultura ao agronegócio, especialmente quando hoje expandiu sua área de trabalho ao norte de África.

O que a agricultura e o  planeta necessitam  atualmente é exatamente o oposto do que os propostos pelos  Srs.  Graziano da Silva e Chakrabarti. O que a humanidade e os que padecem  de fome no mundo necessitam é de apoio às c agro-culturas do campo, que são formas de vida da metade da humanidade e tornam possível a agricultura camponesa. Porque é mais eficiente e produtiva, porque ainda  produz  pelo menos metade da oferta global de alimentos  e grande parte do trabalho no campo, porque ajuda a resfriar o planeta, a agricultura        camponesa   deve   ser      fortalecida     e          protegida.
 
La producción de alimentos y las formas de vida campesinas e indígenas no pueden ser destruidas para crear una nueva fuente de mega negocios en manos de un grupo ínfimo de personas. Las tierras y territorios deben dejar de ser una mercancía y volver a las manos de los pueblos del campo; necesitamos reformas agrarias profundas, integrales y efectivas, sin acaparamientos de la tierra por inversionistas que solo buscan el lucro. Necesitamos más comunidades y familias campesinas e indígenas desarrollando su agricultura con dignidad y respeto y no agronegocios.

A produção de alimentos e os meios de vida dos camponeses e indígenas não podem ser destruídos para criar uma nova fonte de megas  negócios em  mãos  de um pequeno grupo de pessoas. As terras e territórios deve deixar de ser uma mercadoria e voltar  às mãos dos povos  do campo; precisamos de uma reforma agrária profunda, abrangente e eficaz, sem grilagem de terras por investidores que buscam apenas o lucro. Precisamos de mais comunidades  e famílias camponesas e indígenas  desenvolvendo sua agricultura com dignidade  e          respeito         e          não     agronegócios.

OS CAMPONESES E CAMPONESAS  ALIMENTAM O MUNDO   O AGRONEGÓCIO ABOMINA

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O CHORO DA AVICULTURA BRASILEIRA


Deu na imprensa:

"Secretaria de agricultura detalha ações adotadas para apoiar avicultura do Paraná

Atendendo a pedido dos deputados estaduais, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, esteve na Assembleia Legislativa para falar sobre a crise que afeta a avicultura paranaense e as medidas adotadas pelo governo para apoiar os produtores. O segmento é responsável por cerca de 660 mil empregos no estado, entre diretos e indiretos.
  
Segundo o  secretário  "O governador Beto Richa está preocupado com a manutenção do modelo de integração entre empresas e avicultores, que deu tão certo no Paraná, e quer evitar a ameaça de quebra que paira sobre o setor".
   
Ortigara lembrou que o Paraná se tornou o maior produtor nacional de carne de frango, com uma produção anual de 2,8 milhões de toneladas. Anualmente são abatidas no Estado 1,4 bilhão de aves, o que corresponde a um abate de quatro milhões de aves por dia.
   
  
Origem da Crise
De acordo com Ortigara, o setor avícola no Estado vinha crescendo num "ritmo chinês" até que em agosto deste ano o preço da soja e do milho, grãos que compõem a ração animal, registrou alta além da normalidade, em decorrência do anúncio da quebra da safra de milho norte-americana. A tonelada de farelo de soja, que era vendida a R$ 611,82 em agosto de 2011, hoje está em R$ 1.400,00 - ou seja, o preço mais do que dobrou.
Afirmou ainda o secretário Ortigara, que  mesmo assim o setor continua crescendo no Estado por conta de novas plantas industriais que entram em operação até o final deste ano. Hoje no Paraná são 42 indústrias entre abatedouros e incubatórios e cerca de 19 mil avicultores que dependem do setor para gerar receita.

Propostas
De acordo com Ortigara, a recuperação da avicultura passa pela recuperação da perda de capital de giro das indústrias. O documento enviado ao governo federal pede a liberação de uma linha de crédito nos moldes do Procap Agro (Programa de Capitalização das Cooperativas Agropecuárias) para viabilizar a continuidade das atividades dos abatedouros nesse período de crise.
Conforme o documento enviado ao governo federal, para solucionar o problema a taxa de juros para essa linha de crédito deve ser de no máximo de 5,5% ao ano ou Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 1% ao ano e com prazo mínimo decinco a seis anos para pagamento.
Outra reivindicação apresentada pelo Paraná foi a agilização da remoção dos estoques do milho da região Centro Oeste para o Paraná, via Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), que promove vendas de milho em balcão para os pequenos avicultores a preços subsidiados. Não há falta de milho no Estado, disse o superintendente da Conab no Paraná, Luiz Vissoci, que também compareceu à audiência na Alep para explicar como estão as negociações para o transporte do grão.
A remoção dos estoques de milho da região Centro Oeste para venda subsidiada em balcão iria baratear o preço do milho na região Sul do País, sem afetar o preço ao produtor, explicou o secretário.

Vejam as contradições: o superintendente da Conab diz que " não há falta de milho no Estado" e os avicultores pedem " remoção dos estoques de milho da região Centro Oeste". Por que? Porque  a especulação toma conta do sul do país; porque os estoques de milho e soja já estão nas mãos das multinacionais, das grandes " treidingues". De nada adiantaos Procap Agro e linhas de crédito especiais que não resolverão o problema. O Governo tem de intervir nessa Mercado Persa do Milho e da Soja, assim como as grandes cooperativas de produtores que ficham réfens dos grandes comerciantes de grãos em prejuizo a grande cadeia produtiva de aves e suinos. Querem estancar a febre quebrando o termômetro! Coisa de doido!
Ou enfretam as multi ou continuarão  se ferrando. Mas ... como sempre quem entra pelo cano são os integrados.

DESMISTIFICANDO O GRANDE STALIN


Para entender Stalin e o “stalinismo”
Por Marcos Aurélio da Silva
A publicística brasileira, e não só aquela à direita do espectro político, acostumou-se a se referir a Stalin como um dos grandes assassinos da história. A julgar pelo livro de Domenico Losurdo agora publicado entre nós, Stalin: história crítica de uma lenda negra, tradução de Jaime Clasen, Rio de Janeiro: Revan, 2010, 378 págs. (com um ensaio de Luciano Canfora), este ponto de vista está a demandar uma profunda revisão. Isso se se quiser não apenas refletir sobre o uso político a que a figura de Stalin serviu no Ocidente capitalista, mas igualmente atentar para o que de mais atual há na historiografia que se acercou do tema do “stalinismo”.
De fato, se o que se esperava da abertura dos arquivos da ex-União Soviética era um mar de fatos que tornariam ainda mais abomináveis a história do líder comunista, bem como do regime que ajudou a construir, o livro de Losurdo, apoiado nas mais recentes pesquisas, vem pôr por terra tais expectativas. Veja-se, por exemplo, o caso das “execuções” de Stalin ao cabo dos anos 30, já bem avançada a fase da coletivização forçada da agricultura. Demonstram as citadas pesquisas que elas não alcançavam mais de 1/10 do que se dizia: é que os ideólogos do anticomunismo, acrescenta o ensaio de Canfora, a elas aduziram os milhões de mortos da II Guerra Mundial.
Vê-se como, a partir de um tal embuste, se logra associar, para consumo de incautos, Stalin a Hitler, operação a que se entregou mesmo uma autora como Hannah Arendt, que tendo elogiado a União Soviética de Stalin no imediato pós II Guerra, termina por abraçar a idéia da associação entre comunismo e nazifascismo − ambos totalitários, sustentou. Na verdade, uma tese cara não só à ideologia da Guerra Fria, mas do próprio ponto de vista fascista, insiste Losurdo, remetendo a uma citação de Thomas Mann: “Colocar no mesmo plano moral o comunismo e o nazifascismo, como sendo ambos totalitários, no melhor dos casos é superficialidade, no pior dos casos é fascismo. Quem insiste nesta equiparação pode bem considerar-se democrático, mas na verdade e no fundo do coração já é… fascista…”.
Ora, a título de uma comparação apenas empírica, não é questão de somenos opor as condições das prisões soviéticas àquelas dos campos de concentração nazistas. Abundantes relatos demonstram que no país comunista grassavam boas condições de vida – aliás, de algum modo confirmando observação da própria Arendt, que notou não haver campos de extermínio na URSS. É exemplo o presídio moscovita de Butirka, que em 1921 permitia que “os prisioneiros saíssem livremente da prisão”, organizassem “sessões de ginástica matutina”, formassem “uma orquestra e um coro,… um círculo com revistas estrangeiras e uma boa biblioteca”. Ou ainda, no início dos anos 30, em plena virada staliniana, o exemplo das colônias penais do extremo norte, que contavam com investimentos na construção de hospitais, treinamento “a alguns detidos para a profissão de farmacêutico e enfermeiro”, edificação de “empresas agrícolas coletivas” para “suprir as necessidades alimentares”, e até escolas de formação técnica, para ex-Kulaks “analfabetos ou semi-analfabetos”.
Por certo, em cada um dos casos, não é sem sentido falar de um espírito de reabilitação, donde as tantas iniciativas inspiradas nas idéias de Gorki, como a abertura “de salas cinematográficas e círculos de discussão” e mesmo o pagamento “de um salário regular aos prisioneiros”. E, se há tragédias conhecidas, como a dos exilados da ilha de Nazino (Sibéria ocidental) em 1933, marcados pela fome, o que os fez se alimentarem de cadáveres, não decorrem elas de uma vontade homicida como quer fazer crer a militância anticomunista, mas antes “da falta de programação”.
Insistindo ainda nas comparações, Losurdo lembra como um autor caro a Hitler, o angloalemão Houston S. Chamberlein, sabia muito bem diferir socialismo e nazismo, o primeiro filho “das idéias de confraternização universal do século XVIII”, de “origem comum e da unidade do gênero humano”, o segundo do século XIX, o “século das colônias” e das “raças”, cujo “mérito” teria sido o de refutar a mitologia da origem comum e da unidade do gênero humano a qual se apegavam os socialistas. Com efeito, e até para não cair-se no engano de pôr na conta da psicopatologia de Hitler as infâmias do nazismo (tendência observada em Roosevelt, nota o autor), é preciso entender que o Füher tomou do mundo preexistente a ele, o mundo dos impérios coloniais do século XIX, dois elementos centrais, agora levados à radicalização: a) a missão colonizadora da raça branca do Ocidente; b) a leitura da Revolução de Outubro como um complô judeu-bolchevique que estimulava a revolta dos povos coloniais e minava a hierarquia natural das raças. (Aliás, aqui se compreende bem o porquê da implacável perseguição aos comunistas – “arrancaremos de todo livro a palavra marxismo”, diz Hermann W. Göring, ministro do interior e segundo homem do regime -: são os últimos a pôr em questão o projeto imperial e racial do III Reich)
Quanta diferença, pois, entre o Hitler que chama o povo russo de “animais ferozes” – Stalin seria um ser proveniente dos “infernos”, confirmando o caráter “satânico” do bolchevismo − e diz ser destino do povo ucraniano, como todos os povos subjugados, ficar à devida distância da cultura e da instrução, inclusive sem saber “ler e escrever”, e o Stalin que, posto diante da miséria extrema legada ao povo pelo czarismo, se põe à tarefa da elevação do nível de vida e da emancipação geral de todos os soviéticos. São exemplos, já em meados dos anos 30, o desenvolvimento de nações até então marginalizadas, por meio de ações afirmativas, a equiparação dos direitos jurídicos entre homem e mulher, o surgimento de sólido sistema de proteção social com pensões, assistência médica, proteção das grávidas, abonos familiares, o desenvolvimento da educação e da esfera intelectual em seu conjunto, com a extensão de uma rede de bibliotecas e salas de leitura e a difusão do gosto pelas artes e poesia. Além de importante expansão e modernização da vida urbana, com a construção de novas cidades e a reconstrução das velhas.
Responde por essa grande transformação operada pelo país saído da revolução, certamente, a grande popularidade de que desfrutou Stalin, continuada mesmo após o biênio do Grande Terror (1937-1938), o que não se explica simplesmente pela censura e repressão de Estado, acentua Losurdo, mas pelas chances de promoção social existentes. Basta lembrar a ascensão dos stakanovistas, tornados diretores de fábricas, bem como a ampla mobilidade vertical observada no exército. Aliás, conhecendo o progresso social da Rússia soviética, vem a tempo notar que Stalin assinala ser o regime de Hitler, com seu pisoteio sobre o direito dos intelectuais, dos operários, dos povos, com o desencadeamento dos pogroms medievais contra judeus – os ataques populares de violência −, uma cópia do reacionário regime czarista.
Sabemos que a retórica que associa o movimento vitorioso em Outubro de 1917 e o nazismo aparece também nas referências ao “pacto” de não agressão firmado com a Alemanha hitlerista em agosto de 1939 – o “pacto” Molotv-Ribbentrop. Ora, não sendo puro ardil anticomunista, sustentar este ponto de vista é não conhecer minimamente a geopolítica que precedeu a II Grande Guerra, ou mesmo todo o contexto geopolítico que se abre com a Revolução de 1917.
 De fato, assinala Canfora, de algum modo o “pacto” está em linha com a política de relações internacionais da URSS aberta por Lenin – e ao lado do qual se colocou Stalin − através da paz de Brest-Litovsk, assinada com a Alemanha em 1918, qual seja, a de que “os imperialistas se massacram entre eles, nós ficamos de fora e nos fortalecemos”. Por outro lado, terminada a I Guerra, a política de frentes – ou grandes alianças democráticas − a qual se entregou o país comunista, aprovada no III (1921) e IV (1922) Congresso do Komintern, viu-se constantemente sabotada por França e Inglaterra (mas também – e com alguma razão − pela oposição trotskista nas colônias). Já em 1925 o primeiro país se aproxima da Alemanha através do tratado de Locarno (Suíça), isolando a URSS, ao passo que em 1926 é a vez da Grã-Bretanha romper relações comerciais e diplomáticas com o país comunista, convidando a França a fazer o mesmo.  E, às vésperas da Guerra, os dois países, já tendo abandonado a República espanhola − ajudada militarmente apenas pelos soviéticos e pelas brigadas internacionais –, que caía ante o fascismo, se desinteressam por um acordo com a URSS contra a Alemanha. Além disso, desde o golpe de Estado do fascista Pilsudki em1926, aPolônia apresentava-se como um inimigo declarado da URSS − notadamente empenhada em retirar-lhe a Ucrânia −, sendo que desde 1934 está abertamente subordinada à política alemã. Enquanto a leste o Japão era uma ameaça real, aliás contida na medida em que o “pacto” permitiu aos soviéticos enviar armas e munições para que a China se protegesse do país nipônico – até Pearl Harbor abastecido em petróleo e gasolina pelos EUA, vale notar −, como observou Mao Zedond.
Posto o quadro acima, difícil dizer, como sustenta o artigo de Canfora, que o “pacto” não fosse, e a despeito de continuar o pragmatismo iniciado em Brest, uma forma de ganhar tempo para “preparar-se” melhor. A tese, aliás, é cara a Trotski e Kruchiov, a quem Canfora parece seguir também quanto ao despreparo das linhas soviéticas. Mas como aceitá-la sabendo que Stalin tinha bem presente a análise que fez o general Foch pouco depois da assinatura do Tratado de Versalhes, o Tratado que “pôs” fim a I Guerra Mundial? Qual seja, a de que não se tratava da paz, mas “apenas de um armistício por vinte anos”. Quanto às linhas soviéticas, é preciso ater-se à geografia. De fato, a despeito das enormes dimensões do Exército Vermelho, o sucesso inicial das unidades alemãs se beneficiou da ampla extensão do front (1800 milhas) e da escassez dos obstáculos naturais – além das cidades muito distanciadas entre si, e para as quais convergiam estradas e ferrovias, o que deixava ao inimigo inúmeras alternativas de infiltração.
Mas tratar da luta contra o nazifascismo é, também, para Losurdo, extrair uma periodização que explique a era Stalin − ou mesmo toda a história russa. Com efeito, seria ela a da conclusão de um segundo grande período de desordem da história russa. O primeiro deles, que compreende o século XVII, encerrara-se com a subida de Pedro O Grande ao trono (1689). Já o segundo tem início com a I Guerra Mundial, seguindo até o reforço do poder de Stalin e a aceleração da industrialização pesada do final dos anos 20 que ele levou a efeito, bem como a “ocidentalização” que lhe corresponde.
Ora, para Losurdo, a marca desse segundo período não é a de um regime totalitário, mas, antes, a de um estado de exceção, ou uma ditadura desenvolvimentista. Esta responde a uma guerra civil prolongada, cujo início foi a luta contra o czarismo e as potências aliadas entre 1914 e fevereiro de 1917, mas que segue na vitória sobre os mencheviques em outubro de 1917 e com as divergências dentro do grupo dirigente bolchevique após a morte de Lenin. Tudo no contexto de uma crescente hostilidade internacional, ou do perigo iminente, para lembrar uma noção do filosofo estadunidense Michael Walzer, que Losurdo utiliza − não sem uma certa restrição, deve-se notar − para dar conta do universo concentracionário da era Stalin. Daí poder-se compreender, pois, as seguidas ações insurrecionais – como a tentativa de golpe feita por Trotski durante o desfile pelo décimo aniversário da revolução – as tramas em ambientes militares – como as que parecem ter atraído o general Tukatchevski – ou ainda os muitos assassinatos – como o que vitimou Kirov, aliás hoje já não atribuível a Stalin. A propósito, se se trata de falar dos processos de Moscou, o novo material que a abertura dos arquivos russos tornou disponível tem permitido concluir que eles “não foram um crime sem motivo e a sangue frio, mas a reação de Stalin durante uma aguda luta política”.
Antes que se diga que o livro é pura apologia do socialismo à moda soviética, ou uma hagiografia de Stalin, bom notar a crítica teórica a que ele submete alguns dos fundamentos do marxismo-leninismo ou, para dizer mais corretamente, do marxismo em todo o seu conjunto.  No fundamental, Losurdo debruça-se aqui sobre a dificuldade deste quanto a desapegar-se do universalismo abstrato. É a partir daqui, anota, que emergem os tantos problemas com que se deparou a construção da nova sociedade em esferas como o mercado e o dinheiro, o Estado, a nação, a norma jurídica, a família. No fundo, tratou-se da dificuldade, tão comum no âmbito das esquerdas, em passar do universal ao particular. Ora, o curioso é que aqui, a necessidade de dar soluções a questões muito concretas, fez de Stalin o que logrou esboçar importantes avanços − e isso, vale notar, se aproximando de teóricos que, no mais das vezes, são chamados para criticá-lo (Gramsci, Hegel, o próprio Marx) −, conquanto mesmo ele tenha ficado a meio caminho.
Veja-se a questão do mercado e do dinheiro. Enquanto o campeão do reformismo, Karl Kautsky, já em 1918, se entrega à crítica da permanência da produção de mercadorias e da propriedade privada da terra – a cargo dos intelectuais e do proletariado, segundo ele −, num tom que nada o distingue, por exemplo, da crítica extremista de Trotski à NEP − que fala de restauração do capitalismo sob o comando de uma burocracia para apelar à supressão do dinheiro e de qualquer forma de mercado –, Stalin, em relatório de 1934 ao XVII Congresso do PCUS, insiste na necessidade de se prevenir contra “as fofocas esquerdistas…, segundo as quais o comércio soviético seria um estágio ultrapassado e o dinheiro deveria ser logo abolido”. Ora, no lugar de um mercado ou uma economia monetária em geral, trata-se aqui da “construção de um sistema determinado de produção e distribuição da riqueza social”.
Aliás, do anterior decorre outra questão não menos importante, e nem sempre bem compreendida, qual seja, a das diferenças de rendimento no socialismo. Stalin tem bem presente, adverte Losurdo, a referência de Marx no Manifesto quanto à ilusão de que o socialismo seria o reino de um “ascetismo universal” e do “igualitarismo grosseiro”: “O nivelamento no campo das necessidades e da vida pessoal é um absurdo pequeno-burguês digno de qualquer seita primitiva de asceta, não de uma sociedade socialista organizada no espírito marxista, porque não se pode exigir que todos os homens tenham necessidades e gostos iguais… Por nivelamento, o marxismo entende não já o nivelamento no campo das necessidades pessoais e condições de vida, mas a destruição das classes”, afirma. De fato, estamos diante da aporia posta por Hegel na Fenomenologia do Espírito, segundo a qual “uma satisfação igual das necessidades diferentes dos indivíduos” leva a “uma desigualdade em relação… à distribuição dos bens’” (à quota de participação), ao passo que “uma ´distribuição igual` dos bens… torna desigual… a ´satisfação das necessidades`”. Aporia a qual  Marx fez corresponder, respectivamente, as etapas socialista e comunista da divisão do trabalho, sendo que na última delas, o estágio alcançado pelas forças produtivas torna sem importância a desigualdade – que está sempre presente, pois.
Questão semelhante se põe quanto ao Estado e a nação. Enquanto Trotski, radicalizando o universalismo abstrato, acusa a construção do socialismo na Rússia de nacional-reformista, Stalin irá sublinhar a necessidade de ligar “um nacionalismo sadio, corretamente entendido, com o internacionalismo proletário”, uma advertência que em tudo lembra a distinção de Gramsci entre cosmopolitismo e internacionalismo, o último devendo saber “ser ao mesmo tempo ´profundamente nacional’”. Ora, Stalin tem presente que a luta de classe se configura agora como o compromisso de desenvolver economicamente e tecnologicamente o socialismo na URSS, que assim daria sua contribuição à causa internacionalista da emancipação. Fato ainda mais relevante quando se tratou de resistir aos “planos de escravização do imperialismo nazista”, o que significa dizer que “a marcha da universalidade passava através das lutas concretas e particulares dos povos decididos a não se deixar reduzir à condição de escravos ao serviço do povo hitleriano dos senhores”.
Mas não se trata apenas de uma determinada conjuntura. A questão parece atravessar mesmo todo o problema das transições, como o demonstram as referências às reflexões do idealismo alemão acerca da Revolução Francesa. Kant alertou, destaca Losurdo, quanto a uma “universalidade excessivamente extensa”, afirmando que “o apego ao próprio país” deve conciliar-se com “a inclinação a promover o bem do mundo inteiro”. E Hegel, desenvolvendo a mesma linha de pensamento, celebra “como uma grande conquista histórica a elaboração do conceito universal de homem (titular de direitos ‘enquanto homem e não enquanto judeu, católico, protestante, alemão, italiano, etc.’)” sem, todavia, deixar de acrescentar que esta celebração “não deve desembocar no ‘cosmopolitismo’ e na indiferença ou oposição com respeito à ‘vida estatal concreta’ do país do qual se é cidadão”.
Ora, mas a questão do Estado e da nação é também a questão das relações entre democracia e socialismo. Uma questão a qual não descuidou Lenin, lembra o autor remetendo-nos a uma passagem do líder bolchevique:  “quem quiser caminhar para o socialismo por um caminho que não seja a democracia política, chegará inevitavelmente a conclusões absurdas e reacionárias, tanto do ponto de vista econômico como político”. Mas de que modo o universalismo abstrato de que acima se falou teve aqui também seus efeitos?
O apego à tese da extinção do Estado, eis o ponto problemático, acusa Losurdo. Com efeito, fortemente influenciados pelo anarquismo, diferentes revolucionários se entregaram à crítica acerba de toda a forma de poder − incluindo o desprezo ao “parlamento, aos sindicatos, aos partidos, às vezes até ao partido comunista, ele mesmo afetado pelo princípio da representação e, portanto, pelo flagelo da burocracia”. Trotski é o expoente máximo dessa crítica, sabemos, mas ela afeta a todos – sendo mesmo ele, por exemplo, ao lado de Lenin, objeto de rejeição por Alexandra Kollontai nos primeiros anos da Rússia soviética. Aliás, lembra o autor, antes de insistir, em Melhor menos, mas melhor, na tarefa de “edificação do Estado”, do “trabalho administrativo”, para o qual dever-se-ia contar com “os melhores modelos da Europa ocidental”, mesmo Lenin, em O Estado e a revolução, defende necessitar a fase pós revolucionária “unicamente de um Estado em vias de extinção”.
É a Constituição de 1936 que inicia um rompimento com este messianismo − segundo o qual “´o direito é ópio para o povo` e ´a idéia de constituição é uma idéia burguesa`” −, assinala Losurdo. E é Stalin que sublinha não se contentar esta Constituição apenas “em fixar os direitos formais dos cidadãos”, antes logrando deslocar “o centro de gravidade para a garantia desses direitos, para os meios de exercício desses direitos”, entre eles a “aplicação do sufrágio universal, direto e igual, como escrutínio secreto” (o que para Trotski não passava da reaparição de uma instituição burguesa). E, ainda em 1938, convocando a que não se transformasse a lição de Marx e Engels “num dogma e numa escolástica vazia”, elabora que, entre as funções do Estado socialista, “além daquelas tradicionais de defesa do inimigo de classe no plano interno e internacional”, está a função do “trabalho de organização econômica e o trabalho cultural e educativo dos órgãos” do Estado. Isto com a “finalidade de desenvolver os germes da economia nova, socialista, e de reeducar os homens no espírito do socialismo”, devendo mesmo a “função de repressão” ser “substituída pela função de salvaguarda da propriedade socialista contra os ladrões e os dissipadores do patrimônio do povo”.
Certamente, estas declarações estão em contradição com o Grande Terror e a dilatação do Gulag do final dos anos 30. Não obstante, se a ditadura do proletariado, como fixou Lenin em O Estado e a Revolução, é o poder que não se vincula a nenhuma lei, Stalin, no imediato pós II Guerra, declara que Bulgária e Polônia podem “realizar o socialismo de modo novo, sem a ditadura do proletariado”, e que mesmo na URSS, se “não tivéssemos tido a guerra, a ditadura do proletariado teria tomado um caráter diferente.” Algo esboçado após a vitória sobre os Kulaks, como se pode ver na rejeição das emendas à Constituição que queriam “privar dos direitos eleitorais os ministros do culto, os ex-guardas brancos, todos os ´ex` e as pessoas que não desempenham um trabalho de utilidade pública”, bem como a rejeição da proposta de “proibir as cerimônias religiosas.”
Sem dúvida, insiste Losurdo, toda a teorização em torno das funções do Estado, “em si uma novidade essencial”, ficou a meio caminho. Se Stalin fala da conservação do Estado na fase comunista, o faz ainda condicionada ao “cerco capitalista”, ao “perigo de agressões armadas do exterior” (mesmo a questão da língua nacional, onde deu enorme contribuição, insistindo diferir ela “de maneira radical de uma superestrutura”, já que não criada “por uma classe qualquer, mas pela sociedade inteira”, é ainda pensada como sujeita a extinção nesta fase). Ora, é aqui que, para Losurdo, se impõe uma valorização de Hegel. Mais precisamente do Hegel que falou de aprendizagem de governo ao se debruçar sobre a Revolução Francesa e sua congênere inglesa do século XVII – no fundamental, do Hegel que falou da necessidade dialética de dar “conteúdo concreto e particular à universalidade, pondo fim à perseguição louca da universalidade nas suas imediatez e pureza”.
Eis aqui também a raíz da tragédia que foi o Grande Terror de 1937-38, ou da coletivização forçada da agricultura ao cabo dos anos 20 − e para a qual contou mesmo o messianismo de parcela não desprezível da população, saudosa do igualitarismo da fase do comunismo de guerra −, raiz, enfim, da dificuldade de avançar em direção à democracia socialista. Lições, aliás, inescapáveis se se quiser entender a evolução dos países socialistas que aí estão (China, Vietnã), empenhados na construção tanto de uma neo-NEP, com o objetivo maior de desenvolver as forças produtivas nacionais, quanto de todo um conjunto de regramento jurídico que só muito forçosamente pode ser interpretado como simples democratização formal. Uma evolução, diga-se, que em nada lembra a apostasia gorbachoviana − bem demonstrada no ensaio de Canfora −, como gostam de fazer crer não só os mais messiânicos no interior da esquerda, mas a própria direita, sempre pronta a decretar a morte do socialismo.
Marcos Aurélio da Silva é Prof. dos cursos de graduação e pós-graduação em Geografia
Concordo ipsis litteris com as idéias defendidas pelo Marcos.

UM RECADO DE DOMENICO LOSURDO AOS "COMUNISTAS"



" Uma última observação [aos neoleninistas]. Com a guerra contra a Líbia, perfilou-se numa nova divisão do trabalho no âmbito do imperialismo. As grandes potências coloniais tradicionais, como a Inglaterra e a França, valendo-se do decisivo apoio político e militar de Washington, centram-se no Oriente Médio e na África, ao passo que os Estados Unidos deslocam cada vez mais seu dispositivo militar para a Ásia. E assim voltamos à China. Depois de haver deixado para trás o século de humilhações que começou com as guerras do ópio, os dirigentes comunistas sabem que seria insensato e criminoso faltar pela segunda vez ao encontro com a revolução tecnológica e militar: enquanto liberta centenas de milhões de chineses da miséria e da fome a que os havia condenado o colonialismo, o poderoso desenvolvimento econômico do grande país asiático é também uma medida de defesa contra a agressividade permanente do imperialismo. Aqueles que, inclusive na "esquerda", se põem a reboque de Washington e Bruxelas na tarefa de difamação sistemática dos dirigentes chineses. demonstram que não se preocupam nem com a melhoria das condições de vida das massas populares nem com a causa da paz e da democracia nas relações internacionais. "

SOLIDARIEDADE A HUGO CHAVEZ

Brasileiros com Chávez, pela Venezuela e América Latina!
As eleições presidenciais na Venezuela em 7 de outubro serão decisivas para os rumos dos processos de mudanças na América Latina e balizarão a correlação de forças na região, com impacto em âmbito mundial.
Uma eventual derrota de Chávez significaria um grande retrocesso, a começar pelo próprio povo venezuelano, que poderia perder as conquistas políticas e sociais já asseguradas até aqui pelo processo bolivariano.
Para avaliarmos estas mudanças, basta constatar alguns fatos objetivos. A Venezuela é um dos raros países do mundo em que os trabalhadores conquistaram novos direitos, ao invés de perdê-los. No lugar de privatização, promovem-se grandes investimentos estatais na saúde, educação, habitação popular e serviços públicos. Foi o segundo país da América da América Latina a erradicar o analfabetismo, com a valiosa contribuição da pioneira Cuba.
Para confirmar os avanços sociais do governo Chávez, recente relatório da ONU aponta a Venezuela como o país da América Latina com menos desigualdade, obviamente depois de Cuba, que não entrou no relatório certamente para não revelar as virtudes do socialismo.
A Venezuela tem sido também o maior obstáculo aos objetivos hegemonistas dos Estados Unidos na América Latina e se tem colocado na defesa de todos os povos agredidos pelo imperialismo.
A derrota de Chávez traria prejuízos para outros povos, a começar pelo cubano, com quem a Venezuela hoje mantém estreitos laços de intercâmbio baseado na complementaridade e na solidariedade. Seria ainda uma ameaça para os processos de mudanças no Equador e na Bolívia e um fortalecimento da direita em todo o nosso continente, com reflexos até no Brasil.
Uma situação dramática vivem as forças populares colombianas, que lutam por uma solução política para o conflito interno, que têm origem em profundas injustiças sociais. E exatamente no momento em que emerge com força a Marcha Patriótica, o maior movimento de massas das últimas décadas na América Latina.
Nesse contexto, cabe a todas as forças progressistas e antiimperialistas expressar inequívoco apoio político militante à reeleição de Hugo Chávez, para que possam avançar as mudanças sociais na Venezuela e na América Latina, rumo ao socialismo.
Brasil, 4 de setembro de 2012
Nota do PCB