Cuba: o bloqueio e a imoralidade dos EUA
La Jornada, editorial de 26.10.2011 :: 29.10.11A política do actual governo de Washington em relação a Havana em nada se distingue da do seu antecessor. Com o prosseguimento do embargo o actual mandatário estado-unidense, distinguido há dois anos com o prémio Nobel da Paz, atropela os mais elementares princípios éticos, humanos e civilizacionais, e age em sentido contrário ao sentimento maioritário da ONU.
Pelo vigésimo ano consecutivo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)
condenou, por esmagadora maioria – 186 votos a favor, dois contra, três abstenções – o bloqueio que os Estados Unidos mantêm há meio século contra Cuba. O resultado da votação de ontem é elucidativo acerca do isolamento diplomático da superpotência face a este prolongado conflito: com a excepção dos votos contrários do acusado e de Israel – cujo governo necessita do apoio estado-unidense para perpetuar esse outro atropelo ao direito internacional que é a ocupação ilegal dos territórios palestinos – e das abstenções das ilhas Marshall, Micronésia e Palaos, mais de 90 por cento dos estados membros da ONU – cujos governos provêm das mais diferentes ideologias económicas, políticas e sociais, e muitos dos quais têm sido aliados tradicionais de Washington e críticos do regime cubano – rejeitaram o intervencionismo, a imoralidade, a pretensão à extraterritorialidade e o anacronismo que constitui o embargo contra a nação caribenha.
É pertinente insistir-se em que, independentemente das opiniões que existam acerca do sistema político e económico cubanos, o bloqueio imposto pelos EUA é insustentável do ponto de vista legal, moral, humano e político: nas cinco décadas que já decorreram desde o seu início, esta medida prejudicou gravemente a nação caribenha, dificultou a alimentação, a saúde e a prosperidade do povo da ilha e provocou um enorme dano à sua economia. Segundo afirmou ontem o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, o bloqueio já custou ao país caribenho uns 975mil milhões de dólares, fundamentalmente pela necessidade de adquirir alimentos, medicamentos, reagentes, sobressalentes para equipamentos médicos, instrumentos e outros bens em mercados distantes e, em muitas ocasiões, com recurso a intermediários, em consequência da proibição de negociar com empresas estado-unidenses e inclusivamente com associadas suas noutros países.
Para cúmulo, a persistência da medida constitui uma contradição com os acordos de livre comércio que Washington tem imposto em outras latitudes do continente e do mundo, uma vez que priva as empresas dos Estados Unidos e de outros países de legítimas oportunidades de negócio e de investimento na economia cubana.
Por outro lado nesta sessão da ONU voltou a brilhar a dupla moral que caracteriza a postura de Washington em relação à ilha com a insistência, formulada pelo representante desse país vizinho na ONU, Ron Godard, de que “o nosso objectivo (através do embargo) é alcançar um ambiente mais aberto em Cuba, melhorar os direitos humanos e as liberdades fundamentais”: para além de dever assinalar-se que tais exigências ofendem o princípio da não intervenção e os princípios básicos do respeito pela soberania e autodeterminação dos povos, que autoridade tem para as colocar um governo que tem tolerado e apoiado regimes tão insuportáveis como o da Arábia Saudita, o de Marrocos e o de Israel – entre muitos outros -, reconhecidamente regimes de carácter opressor e violadores sistemáticos dos direitos humanos.
Em resumo, com a continuidade da política que tem suscitado a rejeição por parte de praticamente toda a comunidade internacional, a administração encabeçada por Barack Obama acentuou a percepção do fracasso em cumprir as promessas de mudança com que se apresentou. Para além da eliminação de algumas das restrições a viagens e transferências de divisas impostas por George W. Bush, a política do actual governo de Washington em relação a Havana em nada se distingue da do seu antecessor. Com o prosseguimento do embargo o actual mandatário estado-unidense, distinguido há dois anos com o prémio Nobel da Paz, atropela os mais elementares princípios éticos, humanos e civilizacionais, e age em sentido contrário ao sentimento maioritário da ONU.
condenou, por esmagadora maioria – 186 votos a favor, dois contra, três abstenções – o bloqueio que os Estados Unidos mantêm há meio século contra Cuba. O resultado da votação de ontem é elucidativo acerca do isolamento diplomático da superpotência face a este prolongado conflito: com a excepção dos votos contrários do acusado e de Israel – cujo governo necessita do apoio estado-unidense para perpetuar esse outro atropelo ao direito internacional que é a ocupação ilegal dos territórios palestinos – e das abstenções das ilhas Marshall, Micronésia e Palaos, mais de 90 por cento dos estados membros da ONU – cujos governos provêm das mais diferentes ideologias económicas, políticas e sociais, e muitos dos quais têm sido aliados tradicionais de Washington e críticos do regime cubano – rejeitaram o intervencionismo, a imoralidade, a pretensão à extraterritorialidade e o anacronismo que constitui o embargo contra a nação caribenha.
É pertinente insistir-se em que, independentemente das opiniões que existam acerca do sistema político e económico cubanos, o bloqueio imposto pelos EUA é insustentável do ponto de vista legal, moral, humano e político: nas cinco décadas que já decorreram desde o seu início, esta medida prejudicou gravemente a nação caribenha, dificultou a alimentação, a saúde e a prosperidade do povo da ilha e provocou um enorme dano à sua economia. Segundo afirmou ontem o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, o bloqueio já custou ao país caribenho uns 975mil milhões de dólares, fundamentalmente pela necessidade de adquirir alimentos, medicamentos, reagentes, sobressalentes para equipamentos médicos, instrumentos e outros bens em mercados distantes e, em muitas ocasiões, com recurso a intermediários, em consequência da proibição de negociar com empresas estado-unidenses e inclusivamente com associadas suas noutros países.
Para cúmulo, a persistência da medida constitui uma contradição com os acordos de livre comércio que Washington tem imposto em outras latitudes do continente e do mundo, uma vez que priva as empresas dos Estados Unidos e de outros países de legítimas oportunidades de negócio e de investimento na economia cubana.
Por outro lado nesta sessão da ONU voltou a brilhar a dupla moral que caracteriza a postura de Washington em relação à ilha com a insistência, formulada pelo representante desse país vizinho na ONU, Ron Godard, de que “o nosso objectivo (através do embargo) é alcançar um ambiente mais aberto em Cuba, melhorar os direitos humanos e as liberdades fundamentais”: para além de dever assinalar-se que tais exigências ofendem o princípio da não intervenção e os princípios básicos do respeito pela soberania e autodeterminação dos povos, que autoridade tem para as colocar um governo que tem tolerado e apoiado regimes tão insuportáveis como o da Arábia Saudita, o de Marrocos e o de Israel – entre muitos outros -, reconhecidamente regimes de carácter opressor e violadores sistemáticos dos direitos humanos.
Em resumo, com a continuidade da política que tem suscitado a rejeição por parte de praticamente toda a comunidade internacional, a administração encabeçada por Barack Obama acentuou a percepção do fracasso em cumprir as promessas de mudança com que se apresentou. Para além da eliminação de algumas das restrições a viagens e transferências de divisas impostas por George W. Bush, a política do actual governo de Washington em relação a Havana em nada se distingue da do seu antecessor. Com o prosseguimento do embargo o actual mandatário estado-unidense, distinguido há dois anos com o prémio Nobel da Paz, atropela os mais elementares princípios éticos, humanos e civilizacionais, e age em sentido contrário ao sentimento maioritário da ONU.