sexta-feira, 27 de abril de 2012

AMÉRICA LATINA NO CAMINHO NEO-EXTRATIVISMO





A decisão da Argentina de recuperar o controle da indústria do petróleo é um sinal de que a América Latina está preparada para reconquistar seus direitos em relação aos recursos naturais. Muitos vêem isso como um sinal de que os dias do neoliberalismo estão contados na região. A realidade é mais complicada.

Na  primeira metade do século XX marcou o extrativismo de inserção da América Latina na economia global. A palavra extrativismo   é um pouco imprecisa pois  compreende a produção da indústria de mineração, assim como a produção  agrícola da monocultura para exportação.

Extrativismo está associado  a existência de enclaves, exploração no trabalho sem limites,  violações dos direitos humanos,  extermínio de grupos indígenas e de governos subordinados ao poder das corporações multinacionais. É um assunto de difícil resolução do qual  é difícil de escapar. A estratégia de substituição de importações aplicada entre 1940 e 1980 foi projetada para escapar dessa armadilha. Mas a crise da dívida dos anos 80 permitiu impor o regime neoliberal e o extrativismo voltou com espíritos de vingança.

A onda de privatizações entregou o controle das industrias de mineração e de petróleo às multinacionais. A política fiscal restritiva  e a  retirada de apoio à agricultura familiar , juntamente  a liberalização financeira  comércial, permitiram  o retorno da grande exploração agrícola de monocultura,  ligadas a consórcios de grãos e sementes  que controlam o mercado mundial .

O neoliberalismo levou a um desempenho econômico medíocre  e repetidas crises. Tudo isso levou a grandes mudanças políticas. Em eleições livres e democráticas aconteceram as vitórias eleitorais de  Hugo Chávez em 1999, Nestor Kirchner e Lula (ambos em 2003), Evo (2006) e Rafael Correa (2007).

Nesses países, o controle sobre os recursos naturais se converteu  na mais  alta  prioridade, por ser  fonte de receitas fiscais. O resgate foi apresentado como parte de um projeto nacionalista, a verdade é que ele também foi uma decisão pragmática que não passava pela expropriação. Não que o acesso à tecnologia tenha sido a principal barreira à entrada. As grandes empresas multinacionais possuiam os  canais de comercialização e a maneira mais fácil era seguir uma estratégia adaptativa para renegociar os termos dos contratos e concessões, evitando confrontos com os EUA e alguns países europeus. Muito rapidamente se pode  de captar assim uma fatia maior do excedente de exploração e dotação  de recursos fiscais.

Não surpreende que  os indicadores sobre a composição do PIB e das exportações continuem  revelando  a importância do setor primário- exportador nas economias de muitos destes países. É claro que  no novo esquema os  recursos fiscais  permitiram  aumentar os gastos em saúde, educação, habitação e infra-estrutura. Houve também uma política de recuperação dos salários e aumentou a cobertura e alcance dos programas de combate à pobreza. Isto deu legitimidade política e social para esses governos. Mas também pode ter causado um  apoio  ao neo-extrativismo e uma maior pressão  para aumentar a produção e maximizar a aquisição de recursos.

Eventualmente, o fluxo de recursos fiscais do neo-extrativismo não é sustentável. Depende primeiro do ciclo em que estão associados com os altos preços de commodities. Decorrido esse ciclo  ocorre a queda nos  preços e diminuição das receitas fiscais. Além disso, o colapso ambiental também pode cortar drasticamente o fluxo de recursos. Assim, a mineração a céu aberto, a exploração madeireira e monocultura comercial em grande  escala  (Brasil e Argentina com a soja transgênica) já são exemplos de catástrofes ambientais.

Este processo está  marcado por grandes contradições, todas relacionadas com as particularidades de cada país. Mas é justo dizer que apesar da retórica nacionalista, o neo-extrativismo não alterou a forma de inserção na economia global. Até certo ponto isso é normal e que o objetivo é parte de uma luta de longo prazo. Com exceção da Venezuela e em menor grau Argentina, não se tem contestado  a estrutura macroeconômica do neoliberalismo. Por exemplo, o Equador tem sua economia dolarizada, o que coloca uma enorme pressão sobre os recursos naturais. Não surpreendentemente, apesar do compromisso de Correa para não  explorar o petróleo em Yasuni, o governo incentiva grandes projetos de mineração.

Claro que, com todas as suas falhas, o processo de neo-extrativista nos governos mais progressistas é um avanço  quando comparado com o que aconteceu no neoliberalismo. Basta olhar para o triste exemplo do México: também aqui persiste uma forma de extrativismo, porém o gasto  social ainda está no chão e a violenta repressão contra as comunidades indígenas  se intensifica.

Fonte: rebelio.org – Tradução e adaptação: Valdir  Izidoro Silveira

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