Vicky Torres
Rebelion
Como Noam Chomsky tem dito
repetidamente, o governo dos Estados Unidos é o principal responsável por
trazer a guerra para todos os cantos do mundo. Afirmação que não minimiza a responsabilidade que recai
sobre seus aliados, as dez potências economicas do mundo e outros países que
acatam docilmente na ONU aos ditames do
governo norte-americano. Uma guerra em que para garantir a supremacia econômica,
política e cultural do império do norte em todo o mundo, massacres diários de
milhares de pessoas e se atropela com
total impunidade a soberania e os direitos
humanos.
Ainda está vivo na memória
da minha geração o genocídio do povo vietnamita - que em 1954 se libertou do
jugo colonial francês na batalha de Dien Bien Phu. Nem se esqueceu dos
desembarques e da invasão das tropas dos EUA, e do apoio material e político
que deu o governo dos Estados Unidos - e outros - às ditaduras que na América
do Sul submetiam seus povos, através da
fome e terrorismo de Estado.
Nos últimos anos, a guerra contra as potências econômicas ocidentais
foram transferidas para países em África (Mali) e Oriente Médio (Líbano,
Afeganistão, Iraque, Síria, amanhã Irã), no contexto da guerra permanente de Israel
contra o povo palestino. Uma frente bélica incessantemente alimentada pela
indústria de armas lucrativas de tais potências.
A maioria dos meios de comunicação
de todo o mundo, subservientes com os que os financiam, silenciam ou distorcem as consequências de bombardeios diários sobre
as populações que sofrem com a guerra, e têm mantido um silêncio cúmplice sobre
as milhares de mortes, saques , os massacres diários, quando não os justificam em nome da sacrossanta luta contra o terrorismo.
Acontece que, quando quem se atreve a quebrar o silêncio ou a manipulação da
mídia subordinada à política oficial - como o soldado americano Bradley Manning
e o ciberativista Julian Assange de WikiLeaks em 2010, e, mais recentemente, Edward Snowden
em 2013 – recai sobre eles toda a fúria dos governos ocidentais, os quais os acusam de alta traição, os perseguem em todo o
mundo e os condenam a privação da liberdade ou exílio.
É
urgente que os cidadãos comuns dos países ricos - ou aqueles que se
autoproclamam "pacifistas" - se perguntem: Quem fornece as armas,
aviões, tanques, bombas, metralhadoras utilizadas nestas guerras e atentados?
Por que valorizam mais a vida de um europeu do que a de um iraquiano, um afegão,
um sírio, um turco ou um voluntário do Médico Sem Fronteiras que morrem sob os
escombros do hospital onde prestavam ajuda solidária? Porque vemos que todos os
governos aliados a frente bélica unida dos EUA lamentando os mortos nos ataques
múltiplos, ontem, em Paris, como lamentaram os de Charlie Hebdo em 2014. No entanto, nenhum lamentou, por exemplo, os mortos em
operações do exército francês no Mali - a partir de janeiro de 2013 até hoje -
nem as vítimas de bombardeios diários no Oriente Médio.
Diante da dor causada pelos recentes ataques na França e o medo de que
isto se repita, diante da dor das
milhares de pessoas que fogem para a Europa da fome e da guerra em seu país,
seria um erro deixar-se seduzir pela xenofobia partidos de ultra direita, aceitar a subordinação da política
externa europeia ao belicismo norte-americano ou aceitar sem resistência a
supressão de direitos civis fundamentais. Hoje é o momento para se informar sobre a magnitude das partidas de armas que
se vendem aos países em guerra e os
lucros gerados à indústria europeia de
armamento, se informar sobre os
interesses geopolíticos disfarçados de luta contra o fundamentalismo islâmico.
Então, de maneira organizada
e consciente, temos de nos mobilizar ativamente para a retirada das tropas, a
cessação do comércio de armas, pela rejeição das forças reacionárias e antidemocráticas
e pelo fortalecimento das liberdades civis. Porque hoje, num mundo dilacerado
por guerras que alimentam os cofres das grandes corporações, a maior expressão
de solidariedade com aqueles que sofrem a perda de entes queridos em guerras e
ataques, é opor-se ativamente à avidez
dos lucros da indústria de armamento e a política externa belicosa dos Estados
Unidos e seus aliados.
Pode parecer uma utopia, mas
como dizia Eduardo Galeano “ para que serve a utopia, se não para avançar
sempre até o horizonte?” A experiência
mostra que a proteção e a segurança dos
cidadãos não se consegue mobilizando o
exército - como a França, onde metade das 14.000 tropas mobilizadas opera em
seu próprio território - ou fortalecendo um estado policial - como os EUA – mas
promovendo políticas igualitárias que,
no plano interno, garantem o bem-estar de toda a população e, a nível
internacional, fortalecer as relações fraternas, solidárias e respeitosas entre todos os países.
Vicky Torres, Ativista dos
Direitos Humanos (Chile)
Tradução e adaptação: Valdir
Silveira
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