Líbia, fevereiro de 2011. Os
jornais diários, supostamente “ sérios”, do mundo anunciam, com manchetes
chamativas, alarmantes que Muammar Khadafi estava bombardeando seu povo, que ia
“envenenar ás águas do país que pelas ruas corriam rios de sangue”. Salvo vozes
solitárias, como Jordan Rodrigues, correspondente da venezuelana Telesur, os
meios massivos de comunicação de grande circulação, repetiam as noticias sem
verificar sua veracidade. Pior ainda: publicavam falsidades sem conhecimento,
por dinheiro, leia-se dólar, com o objetivo de criar o clima propício para que
as Nações Unidas – ONU- , poucas semanas depois, em 27 de março de 2011,
autorizasse os bombardeios da OTAN sobre a Líbia, bem como a invasão do país e
o assassinato de Khadafi.
Essa é uma confissão de Udo
Ulfkotte, um dos mais prestigiosos jornalistas da Alemanha, em seu livro Jornalistas Comprados (Gekaufte
Journalisten, Editora Kopp), um êxito de vendas. Em seu livro, Ulfkotte
admite haver aceitado subornos para escrever, entre muitos outros artigos
tendenciosos, um dos quais denunciava
supostos planos de Khadafi para usar gás venenoso contra seu povo.“ Em
inumeráveis ocasiões pus minha assinatura em notas/artigos que me entregaram os
serviços de inteligência dos EUA, da Alemanha ou da OTAN. Menti, traí, recebi
subornos e ocultei a verdade da opinião pública. Não fazia jornalismo, sim
propaganda. Me envergonho, ainda que seja tarde para revertê-la.” E advertiu: “
Hoje acontece o mesmo: há jornalistas subornados para mentir e convencer as
pessoas sobre a necessidade de uma guerra contra a Russia”.
Ulfkotte acaba de completar
55 anos. Estudou jurisprudência e ciências políticas em Freiburg e Londres. Tem
25 anos de jornalismo, 17 dos quais foi editor de um dos diários mais
importantes da Alemanha, o Frankfurter
Allgemeine Zeitung. Como
correspondente de imprensa viveu no Iraque, Iran, Afganistão, Arabia Saudita, Egito,
entre outros países do Médio Oriente. Politicamente
se considera um nacionalista de direita, o que explica a fúria que sente pelo
que considera a “ colonização” da Alemanha e Europa pelos EUA. “ A Alemanha se
converteu num pais bananeiro”, fazendo alusão às republiquetas bananeiras
latinoamericanas. Ulfkotte foi colaborador do ex chanceler Helmut Köhl e,
atualmente, se identifica com o movimento racista antiislâmico Pegida.
Segundo documenta em seu
livro, em parte autobiográfico, há um tráfico de informações escritas que vão
desde a embaixada dos EUA, em Berlim, até as principais redações dos meios de
comunicação alemães. “Passam a
informação ou diretamente mandam redigido o artigo ou o editorial que querem
publicar”. Ulfkotte fornece uma lista hiperdocumentada com nomes e sobrenomes tanto dos jornalistas - se inclui – como das
organizações que comum predominante “ de
acordo com os pontos de vista dos EUA, ou da OTAN. O esquema, diz Ulfkotte, se
repete para os programas de rádio e televisão. “ Salvo poucas exceções, as
redações europeias são sucursais da CIA e da OTAN”.
Como
reagiu o poder midiático em relação ao livro?
“ Quando os advogados do Frankfurter Allgemeine Zeitung souberam
que o livro estava sendo impresso me enviaram uma carta me advertindo sobre as consequências
legais que enfrentaria por publicar nomes e segredos. Eles sabem que eu tenho
provas de tudo”, afirmou Ulfkotte em uma entrevista ao diário Russia Insider. E esse livro que, desde
2014, é best seller na Alemanha, é, “ estranhamente ”, pouco conhecido no resto
do mundo. “ Nenhuma das empresas de
comunicações permite noticias sobre “ Jornalistas Comprados “, informou o
diário russo. Nenhum jornalista pode fazer uma matéria sem arriscar-se a ficar
desempregado. Portanto estamos diante de um livro que é um êxito editorial de
vendas porém a nenhum jornalista é permitido escrever ou falar dele”.
É
essa a liberdade de imprensa que os hipócritas da mídia nacional e internacional
apregoam!
Por que decidiu Ulfkotte dar
esse passo? Ulfkotte responte: “ Agora estão buscando uma guerra na Europa e
usam como pretexto a Ucrânia. E isso me preocupa. Não quero mais guerras. Não
quero ser parte do extenso braço de propaganda da OTAN. Não quero apoiar o
belicismo. Estou preparado para assumir as consequências”. Prontamente gracejou
com o jornalista do Russia Insider: “Talvez tenha que pedir asilo na Russia
como o fez o espião norteamericano Edward Snowden”.
Sobre o conflito na Ucrânia,
Ulfkotte acredita que a manipulação das notícias é massiva. Segundo ele, não há
dúvidas de que, quando o semanário alemão Der Speigel publicou a informação de
que o Boeing malaio MH 17 foi derrubado sobre
a Ucrania por um míssil russo, o fez sob inspiração dos serviços
especiais da CIA e OTAN, ainda que sem apresentar provas. Ulfkotte recorda que
essa noticia serviu de pretexto para que o Ocidente, leia-se os EUA, impusesse
sanções econômicas contra a Russia, algo que para ele deve ser interpretado
diretamente como “ uma declaração de guerra econômica em grande escala, logo
complementada com a redução artificial do
preço do petróleo e a depreciação do rublo, tudo orquestrado com o mesmo fim”.
( grifos meus).
Depois ficou provado que o
Boing MH 17 foi derrubado por forças da Ucrânia apoiadas pela OTAN e EUA. Essa
é a prática o modus operandi do
jornalismo comprado, vendido, do qual, infelizmente, a mídia brasileira faz
parte.
Fonte: rebelion.org
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