segunda-feira, 21 de outubro de 2013

CHE E OS INTELECTUAIS


Atilio Borón e uma reflexão do Che sobre os intelectuais

“Não devemos criar assalariados dóceis ao pensamento oficial e nem «acadêmicos» que vivam ao amparo de orçamentos, exercendo uma liberdade entre aspas” (Che).

(Por ATILIO BORON).-Em seu magnífico escrito, O Socialismo e o Homem em Cuba, o Che sentou as bases de alguns das mais importantes contribuições recentes para o pensamento marxista ao resgatá-lo do asfixiante “economicismo” das versões canônicas da teoria. Para Guevara o projeto socialista era multifacetado e integral. Um de seus componentes essenciais era a criação do homem e a mulher novos, além da construção de uma nova cultura que contrastasse com os quinhentos anos de “des-educação” para a submissão e a resignação sofridos por nossas sociedades, desde os primórdios do capitalismo. Precisamente para destacar o caráter integral do projeto socialista, irredutível a seu único componente econômico, Che lançou mão repetidamente de sentenças, tais como “o socialismo como fórmula de redistribuição de bens materiais não me interessa” ou “o socialismo econômico sem a moral comunista não me interessa”.
No texto acima citado, Che faz uma menção aos intelectuais que quero compartilhar com todos vocês. Está falando de seu papel em Cuba, na Cuba revolucionária; porém, o fundo de seu argumento vai mais além e é pertinente para compreender também o papel e as contradições dos intelectuais latino-americanos no momento atual. Sobretudo dos intelectuais em países como Bolívia, Equador e Venezuela, comprometidos com a construção do socialismo no século XXI e de seus homólogos em países que, sem que sejam propostas de seus governos, essas metas cruzam – como Argentina, Brasil e Uruguai –, através de processos de mudanças, cujos reflexos no plano internacional os aproximam dos primeiros. Por isso, os convido a refletir sobre suas sábias palavras no marco dos 46 anos de seu covarde assassinato.
“Resumindo, a culpabilidade de muitos de nossos intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários. Podemos tentar introduzir o olmo para que dê peras, porém, simultaneamente, é preciso semear pereiras. As novas gerações se virão livres do pecado original. As possibilidades de que surjam artistas excepcionais serão tanto maiores quanto mais se amplie o campo da cultura e a possibilidade de expressão. Nossa tarefa consiste em impedir que a geração atual, deslocada por seus conflitos, se perverta e perverta as novas. Não devemos criar assalariados dóceis ao pensamento oficial e nem «acadêmicos» que vivam ao amparo de orçamentos, exercendo uma liberdade entre aspas. Já virão os revolucionários que entoem o canto do homem novo com a autêntica voz do povo. É um processo que requer tempo”.
Até a vitória sempre, Comandante Che Guevara!
Tradução: PCB

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