No Djibuti, demência totalmente militarizada
Andre Vltchek*(CounterPunch)
19.Out.13
No Djibuti foi instalada uma das principais estruturas da U.S. AFRICOM, a “Força combinada de intervenção do Corno de África” (CJTF-HOA). Uma das nações mais pobres e atrasadas do mundo, a sua posição estratégica para as ambições imperialistas em África e no Médio-Oriente tornou-a um país/base militar.
Imaginem um pequeno país, do tamanho de Massachusetts, sem solo arável ou cultivos permanentes, nem qualquer bosque. Por toda a parte um deserto rochoso, que vem diretamente ter ao mar.
Para “animar”, existe ali o ponto mais baixo da superfície terrestre em África (e o terceiro mais baixo na Terra); um espectral lago situado numa cratera chamado ‘Lago Assal’ (−155 m). E há inumeráveis formações rochosas, nuas, hostis e atemorizantes.
Este pequeníssimo país ocupa um dos lugares mais estratégicos da Terra, pelo menos do ponto de vista dos interesses geopolíticos do Ocidente. Está situado entre Somália, Etiópia e a frequentemente designada como a “Cuba africana”, a desafiadora Eritreia. A apenas 19 quilómetros do outro lado do ponto mais estreito do Mar Vermelho, confronta com a Península Arábica e Iémen.
A capital de Djibuti também se chama Djibuti. Nela vivem dois terços da população. Mas na realidade toda a área ao redor da capital é uma imensa dispersão de bases militares ocidentais, bem como de inumeráveis instalações que as servem.
Há barracões construídos para legionários franceses, uma base naval francesa, uma base militar estadounidense e um enorme aeroporto militar para as forças aéreas ocidentais e aliadas, usado por países que ficam tão distantes de África como Japão e Singapura.
Entretanto, o lixo salpica o deserto desde a fronteira com a “Somalilandia” até ao centro da cidade. A omnipresente presença militar ocidental não parece ter quase nenhum impacto positivo no país; Djibuti tem um dos mais baixos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD) do mundo: a posição 151 entre os 178 países estudados. Mais de metade da população está desempregada e cerca de metade é analfabeta. A esperança de vida média no Djibuti é de 43 anos.
É um mundo brutal, militarizado, agressivo e definitivamente não está em paz consigo mesmo. Um pequeno país muçulmano, com um milhão de habitantes aproximadamente, que tem durante anos vivido basicamente de ser uma espécie de estação de serviço para legiões estrangeiras e tropas de combate regulares. A única coisa que lhe trouxe reconhecimento é que permite que os estrangeiros controlem o Mar Vermelho, que está à porta de Somália e Iémen, que ajuda a manter a pressão sobre a Eritreia e a vigiar a Etiópia.
Tecnicamente, Djibuti obteve a independência da França em 1977, mas na prática continua a estar totalmente sob a esfera de influência francesa e ocidental.
Segundo o relatório do Departamento de Estado dos EUA de 21 de Agosto de 2013:
“Djibuti está situado num ponto estratégico do Corno de África e é um parceiro chave dos EUA para a segurança, estabilidade regional e esforços humanitários no grande Corno. O Governo de Djibuti tem apoiado os interesses dos EUA e adopta uma posição proativa contra o terrorismo. O Djibuti alberga uma presença militar estado-unidense em Camp Lemonnier, uma antiga base da Legião Estrangeira francesa na capital(1). O Djibuti permitiu também que os militares dos EUA, bem como outros militares presentes em Djibuti, tenham acesso às suas instalações portuárias e ao aeroporto.”
Djibuti é um lugar em que miseráveis carroças puxadas por seres humanos se podem ver ao lado de veículos e equipamento militar descartado, no meio do deserto. É o sítio em que no Hotel Sheraton observei a sala de pequeno-almoço repleta de soldados alemães uniformizados e cozinheiros militares servindo-lhes comida.
É um país com uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, onde muitas mulheres sofrem ainda o horror da mutilação genital. ¡Um lugar apropriado para nós! ¡Um bom aliado! ¡Um bom Estado cliente!
Quando abandonava o país, com o avião de Kenyan Airways esperando na pista de aterragem, o meu passaporte e o cartão de embarque foram controlados em várias ocasiões. Antes da saída tudo se tornou ridículo: enquanto dois funcionários, uno uniformizado e o outro vestido à civil, vigiavam a uma distância de apenas um metro entre eles.
“¿Ainda tenho mais disto à minha espera?” perguntei sarcasticamente.
Um soldado de quase dois metros de altura saltou-me imediatamente em cima. Lançou-me com a minha máquina fotográfica contra um muro e destruiu as objetivas, tudo em plena vista dos demais passageiros e da tripulação queniana. Tratei de me defender.
“Pare e caminhe para o avião… Deixe-se estar tranquilo… Ou matam-no”, murmurou um homem à civil. Não faço ideia de quem era, mas provavelmente salvou-me a vida.
Não há outro lugar na Terra como Djibuti. ¡ Graças a Deus que assim seja!
*Andre Vltchek (http://andrevltchek.weebly.com/ ) é novelista, cineasta e jornalista de investigação. Tem feito a cobertura de guerras e conflitos em dezenas de países. O seu livro sobre o imperialismo ocidental no Sul do Pacífico intitula-se Oceânia e está à venda em http://www.amazon.com/Oceania-André-Vltchek/dp/1409298035 . O seu livro sobre a Indonésia post Suharto e seu modelo fundamentalista de mercado intitula-se Indonésia: The Archipelago of Fear,
http://www.plutobooks.com/display.asp?K=9780745331997 . Recentemente produziu e dirigiu o documentário de 160 minutos Rwandan Gambit sobre o regime pró ocidental de Paul Kagame e o seu saque da República Democrática do Congo, e One Flew Over Dadaab sobre o maior campo de refugiados do mundo.
Fonte: http://www.counterpunch.org/2013/10/04/total-militarized-lunacy/
1- No Djibuti foi instalada uma das principais estruturas da U.S. AFRICOM, a “Força combinada de intervenção do Corno de África” (CJTF-HOA):
«Combined Joint Task Force-Horn of Africa (CJTF-HOA) - In the Horn of Africa, CJTF-HOA is the U.S. Africa Command organization that conducts operations in the region to enhance partner nation capacity, promote regional security and stability, dissuade conflict, and protect U.S. and coalition interests. CJTF-HOA is critical to U.S. AFRICOM’s efforts to build partner capacity to counter violent extremists and address other regional security partnerships. CJTF-HOA, with approximately 2,000 personnel assigned, is headquartered at Camp Lemonnier in Djibouti. [ http://www.africom.mil/about-the-command ] » (N.Ed)
Para “animar”, existe ali o ponto mais baixo da superfície terrestre em África (e o terceiro mais baixo na Terra); um espectral lago situado numa cratera chamado ‘Lago Assal’ (−155 m). E há inumeráveis formações rochosas, nuas, hostis e atemorizantes.
Este pequeníssimo país ocupa um dos lugares mais estratégicos da Terra, pelo menos do ponto de vista dos interesses geopolíticos do Ocidente. Está situado entre Somália, Etiópia e a frequentemente designada como a “Cuba africana”, a desafiadora Eritreia. A apenas 19 quilómetros do outro lado do ponto mais estreito do Mar Vermelho, confronta com a Península Arábica e Iémen.
A capital de Djibuti também se chama Djibuti. Nela vivem dois terços da população. Mas na realidade toda a área ao redor da capital é uma imensa dispersão de bases militares ocidentais, bem como de inumeráveis instalações que as servem.
Há barracões construídos para legionários franceses, uma base naval francesa, uma base militar estadounidense e um enorme aeroporto militar para as forças aéreas ocidentais e aliadas, usado por países que ficam tão distantes de África como Japão e Singapura.
Entretanto, o lixo salpica o deserto desde a fronteira com a “Somalilandia” até ao centro da cidade. A omnipresente presença militar ocidental não parece ter quase nenhum impacto positivo no país; Djibuti tem um dos mais baixos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD) do mundo: a posição 151 entre os 178 países estudados. Mais de metade da população está desempregada e cerca de metade é analfabeta. A esperança de vida média no Djibuti é de 43 anos.
É um mundo brutal, militarizado, agressivo e definitivamente não está em paz consigo mesmo. Um pequeno país muçulmano, com um milhão de habitantes aproximadamente, que tem durante anos vivido basicamente de ser uma espécie de estação de serviço para legiões estrangeiras e tropas de combate regulares. A única coisa que lhe trouxe reconhecimento é que permite que os estrangeiros controlem o Mar Vermelho, que está à porta de Somália e Iémen, que ajuda a manter a pressão sobre a Eritreia e a vigiar a Etiópia.
Tecnicamente, Djibuti obteve a independência da França em 1977, mas na prática continua a estar totalmente sob a esfera de influência francesa e ocidental.
Segundo o relatório do Departamento de Estado dos EUA de 21 de Agosto de 2013:
“Djibuti está situado num ponto estratégico do Corno de África e é um parceiro chave dos EUA para a segurança, estabilidade regional e esforços humanitários no grande Corno. O Governo de Djibuti tem apoiado os interesses dos EUA e adopta uma posição proativa contra o terrorismo. O Djibuti alberga uma presença militar estado-unidense em Camp Lemonnier, uma antiga base da Legião Estrangeira francesa na capital(1). O Djibuti permitiu também que os militares dos EUA, bem como outros militares presentes em Djibuti, tenham acesso às suas instalações portuárias e ao aeroporto.”
Djibuti é um lugar em que miseráveis carroças puxadas por seres humanos se podem ver ao lado de veículos e equipamento militar descartado, no meio do deserto. É o sítio em que no Hotel Sheraton observei a sala de pequeno-almoço repleta de soldados alemães uniformizados e cozinheiros militares servindo-lhes comida.
É um país com uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, onde muitas mulheres sofrem ainda o horror da mutilação genital. ¡Um lugar apropriado para nós! ¡Um bom aliado! ¡Um bom Estado cliente!
Quando abandonava o país, com o avião de Kenyan Airways esperando na pista de aterragem, o meu passaporte e o cartão de embarque foram controlados em várias ocasiões. Antes da saída tudo se tornou ridículo: enquanto dois funcionários, uno uniformizado e o outro vestido à civil, vigiavam a uma distância de apenas um metro entre eles.
“¿Ainda tenho mais disto à minha espera?” perguntei sarcasticamente.
Um soldado de quase dois metros de altura saltou-me imediatamente em cima. Lançou-me com a minha máquina fotográfica contra um muro e destruiu as objetivas, tudo em plena vista dos demais passageiros e da tripulação queniana. Tratei de me defender.
“Pare e caminhe para o avião… Deixe-se estar tranquilo… Ou matam-no”, murmurou um homem à civil. Não faço ideia de quem era, mas provavelmente salvou-me a vida.
Não há outro lugar na Terra como Djibuti. ¡ Graças a Deus que assim seja!
*Andre Vltchek (http://andrevltchek.weebly.com/ ) é novelista, cineasta e jornalista de investigação. Tem feito a cobertura de guerras e conflitos em dezenas de países. O seu livro sobre o imperialismo ocidental no Sul do Pacífico intitula-se Oceânia e está à venda em http://www.amazon.com/Oceania-André-Vltchek/dp/1409298035 . O seu livro sobre a Indonésia post Suharto e seu modelo fundamentalista de mercado intitula-se Indonésia: The Archipelago of Fear,
http://www.plutobooks.com/display.asp?K=9780745331997 . Recentemente produziu e dirigiu o documentário de 160 minutos Rwandan Gambit sobre o regime pró ocidental de Paul Kagame e o seu saque da República Democrática do Congo, e One Flew Over Dadaab sobre o maior campo de refugiados do mundo.
Fonte: http://www.counterpunch.org/2013/10/04/total-militarized-lunacy/
1- No Djibuti foi instalada uma das principais estruturas da U.S. AFRICOM, a “Força combinada de intervenção do Corno de África” (CJTF-HOA):
«Combined Joint Task Force-Horn of Africa (CJTF-HOA) - In the Horn of Africa, CJTF-HOA is the U.S. Africa Command organization that conducts operations in the region to enhance partner nation capacity, promote regional security and stability, dissuade conflict, and protect U.S. and coalition interests. CJTF-HOA is critical to U.S. AFRICOM’s efforts to build partner capacity to counter violent extremists and address other regional security partnerships. CJTF-HOA, with approximately 2,000 personnel assigned, is headquartered at Camp Lemonnier in Djibouti. [ http://www.africom.mil/about-the-command ] » (N.Ed)
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