É essencial continuar a investigação, análise, comunicação e mobilização contra os abusos cometidos por empresas transnacionais na sua expansão em todo o mundo. Porque, longe de enfraquecer a atual crise económica e financeira, o fato é que as grandes corporações continuam a reforçar o seu poder e influência em nossa sociedade, graças às suas estratégias corporativas renovadas e aplicação constante de novos modelos de negócios. Assim, enquanto aprofundam as desigualdades e as maiorias sociais assistem os seus direitos serem relegados diante da proteção dos interesses comerciais e contratos das empresas multinacionais, é mais necessário do que nunca fortalecer as lutas e resistências contra as corporações transnacionais. Ao mesmo tempo precisamos avançar na reflexão e construção de alternativas sócio-econômicas que nos permitem olhar para além do capitalismo, abrindo janelas para os outros modelos possíveis, outras realidades que não coloquem as grandes corporações no centro da atividade da sociedade, mas, muito pelo contrário, que as coloquem de lado para pôr em seu lugar as pessoas e os processos que tornam possível a vida em nosso planeta.
Precisamos dessa idéia como contraponto a enorme capacidade e variedade de recursos que as grandes empresas tem para impor seu pensamento e nos convencer de que não há alternativas; é necessária a construção de outros discursos que confrontam o hegemônico e que transmitam que não só é possível, é essencial repensar a centralidade do capital transnacional na economia e, em geral, sobre as nossas vidas. Para fazer isso, devemos romper com a crença generalizada de que a economia, o direito, as relações internacionais, a cooperação para o desenvolvimento são disciplinas que só podem ser tratadas por funcionários técnicos e especialistas credenciados na matéria.Porque esse é, precisamente, um dos argumentos que impõem as escolas neoliberais para deslegitimar a mobilização social contrária aos seus ditames. Assim considerado, o debate sobre o avanço do capitalismo seria puramente técnico, com o qual a linguagem do conhecimento dos especialistas tornaria impossível, na prática, a divulgação de informações à maioria da população e se tenderia, portanto, a suplantar a participação popular.
Nas universidades européias, a linguagem utilizada nos textos oficiais é recriada novamente na transferência de conhecimento das universidades para as empresas, esta é a ferramenta central da Estratégia de Lisboa que impulsiona a União Européia, entendendo, é claro, que essa transferência de conhecimento se dá quando tem valor de mercado. A lógica da chamada "excelência" consiste na promoção e apoio aos centros universitários e as pesquisadoras e pesquisadores mais competitivos, cuja classificação dependerá de índices , sistemas privados e semi-públicos de avaliação, adequados, de fato, a critérios mercantis, sem qualquer controle democrático . Além disso, na medida em que a obtenção de recursos externos é valorizada como um critério de mérito para o desenvolvimento económico e profissional, ela impele professores e pesquisadores a assinar contratos com grandes empresas que fornecem financiamento para futuros trabalhos e estudos. Neste contexto, se a pesquisa está a serviço dos interesses e necessidades da maioria da sociedade, não é contada como excelente; pelo contrário, chegam a ser qualificadas com o grau de excelência da investigação que favorecem a indústria militar e multinacionais que violam os direitos humanos ou ambientais não respeitamas legislações ambientais. Verifica-se que, do ponto de vista do capital, tudo que gera riqueza em termos econômicos é bom, nada mais.
Assim, o debate entre o técnico e o político ressurge na hora de definir e analisar o papel desempenhado pelas corporações transnacionais no modelo sócio-econômico global. Neste sentido, partimos do ponto de vista de que tanto a caracterização deste fenômeno como a definição de propostas alternativas para o controle das multinacionais não deve ser de domínio exclusivo de escritórios de advocacia, de economistas de renome e especialistas em questões internacionais: sobretudo, esta tarefa deve vir do público. E, se o pensamento dominante em direito e economia é parte da estrutura hegemônica de dominação, só poderá se converter num veículo contra-hegemônico subordinado à ação política.
Fonte: OMA-Observatório de Multinacionales en America Latina
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