“Armas de Destruição em Massa”
Jorge Cadima
Há uma década, o imperialismo lançou uma enorme campanha de desinformação alegando que o Iraque de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa (ADM). Cedo se confirmou que o pretexto não passava duma Aldrabice para a Destruição em Massa (ADM). Agora, uma nova versão da saga ADM está em marcha. O seu subtítulo é «as armas químicas de Bachar al-Assad».
Actor de proa da ADM 2.0 é o presidente «socialista» francês, François Hollande, que no início deste mês foi agraciado com o Prémio da Paz da UNESCO por (pasme-se!) «a sua contribuição considerável para a paz e a estabilidade em África». Ou seja, pela invasão militar do Mali. O presidente do júri de tão criativa atribuição é Mário Soares (www.unesco.org). Após reestabelecer a ordem colonial no Mali, Hollande parece determinado em reestabelecer a ordem colonial na Síria. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, declarou em entrevista que «a França já tem a certeza de que o gás sarin foi usado na Síria […]. Não há qualquer dúvida que [os responsáveis] são o regime e os seus cúmplices, porque fomos capazes de recriar toda a cadeia» do ataque (Libération, 4.6.13). E esclarece: «todas as opções estão em cima da mesa […] incluindo uma reacção armada contra os locais de armazenamento do gás». A França não tem dúvidas. Mesmo depois de Carla del Ponte ter afirmado (Independent, 6.5.13) que se alguém usou gás sarin na Síria, foram os «rebeldes» armados pelo imperialismo. Mesmo depois de «jornais turcos terem relatado que 12 membros da Frente al-Nusra da Síria, com ligações à Al-Qaeda, que alegadamente planeavam um ataque na Turquia e que estavam na posse de 2kg de sarin, tinham sido presos» naquele país (Reuters, 30.5.13). Até o insuspeito New York Times escreveu (10.6.13) que «o presidente Obama terá, sem querer, fornecido um incentivo para exagerar» relatos de utilização de armas químicas ao afirmar que «a utilização de armas químicas pelo governo Sírio seria uma ‘linha vermelha’» que provocaria uma escalada da intervenção dos EUA no conflito. Mas o Prémio Unesco da Paz parece ter convencido o Prémio Nobel da Paz que chegou a hora de fazer uma guerra a sério. Em comunicado da Casa Branca, e apesar do «governo Obama estar profundamente dividido» (NYT, 13.6.13), o vice conselheiro de segurança nacional de Obama avalizou as acusações contra o governo sírio. A máquina de guerra aquece os motores. Do infalível senador McCain, ao ex-presidente Clinton e ao inglês Cameron, cresce o coro que pede uma escalada da intervenção na Síria. E cresce a presença militar dos EUA na região – na Turquia, Israel e Jordânia.
As verdadeiras causas de tanta movimentação não são armas químicas. Nem são difíceis de encontrar, mesmo na imprensa de regime: «os rebeldes sírios estão a perder terreno na sua luta contra o governo de Bachar al-Assad» (CNN, 14.6.13) e «depois das tropas do Sr. Assad – auxiliadas por combatentes do grupo militante Hezbollah – terem conquistado a estratégica cidade de Qusayr […] Washington receia que grande parte da rebelião esteja à beira do colapso» (NYT, 13.6.13). A cruzada imperialista no Médio Oriente arrisca uma derrota de enormes consequências. Et voilá les armes chimiques! grita Fabius, «o Químico».
A farsa é grotesca, mas ameaça transformar a tragédia em catástrofe. Desde há muito que a Síria está a ser destruída por mercenários armados, pagos e apoiados pelos EUA, Inglaterra, França, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, Jordânia (e outros). Em Maio, Israel bombardeou Damasco. A Rússia ripostou reforçando o seu apoio ao governo sírio. O Hezbollah ripostou entrando em acção no terreno. O Irão já declarou repetidamente que, caso seja necessário, entrará em acção em apoio do aliado sírio. Uma escalada da aventura militar imperialista no Médio Oriente arrisca-se a incendiar, não apenas a região, mas todo o planeta.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2064, 20.06.2013
Actor de proa da ADM 2.0 é o presidente «socialista» francês, François Hollande, que no início deste mês foi agraciado com o Prémio da Paz da UNESCO por (pasme-se!) «a sua contribuição considerável para a paz e a estabilidade em África». Ou seja, pela invasão militar do Mali. O presidente do júri de tão criativa atribuição é Mário Soares (www.unesco.org). Após reestabelecer a ordem colonial no Mali, Hollande parece determinado em reestabelecer a ordem colonial na Síria. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, declarou em entrevista que «a França já tem a certeza de que o gás sarin foi usado na Síria […]. Não há qualquer dúvida que [os responsáveis] são o regime e os seus cúmplices, porque fomos capazes de recriar toda a cadeia» do ataque (Libération, 4.6.13). E esclarece: «todas as opções estão em cima da mesa […] incluindo uma reacção armada contra os locais de armazenamento do gás». A França não tem dúvidas. Mesmo depois de Carla del Ponte ter afirmado (Independent, 6.5.13) que se alguém usou gás sarin na Síria, foram os «rebeldes» armados pelo imperialismo. Mesmo depois de «jornais turcos terem relatado que 12 membros da Frente al-Nusra da Síria, com ligações à Al-Qaeda, que alegadamente planeavam um ataque na Turquia e que estavam na posse de 2kg de sarin, tinham sido presos» naquele país (Reuters, 30.5.13). Até o insuspeito New York Times escreveu (10.6.13) que «o presidente Obama terá, sem querer, fornecido um incentivo para exagerar» relatos de utilização de armas químicas ao afirmar que «a utilização de armas químicas pelo governo Sírio seria uma ‘linha vermelha’» que provocaria uma escalada da intervenção dos EUA no conflito. Mas o Prémio Unesco da Paz parece ter convencido o Prémio Nobel da Paz que chegou a hora de fazer uma guerra a sério. Em comunicado da Casa Branca, e apesar do «governo Obama estar profundamente dividido» (NYT, 13.6.13), o vice conselheiro de segurança nacional de Obama avalizou as acusações contra o governo sírio. A máquina de guerra aquece os motores. Do infalível senador McCain, ao ex-presidente Clinton e ao inglês Cameron, cresce o coro que pede uma escalada da intervenção na Síria. E cresce a presença militar dos EUA na região – na Turquia, Israel e Jordânia.
As verdadeiras causas de tanta movimentação não são armas químicas. Nem são difíceis de encontrar, mesmo na imprensa de regime: «os rebeldes sírios estão a perder terreno na sua luta contra o governo de Bachar al-Assad» (CNN, 14.6.13) e «depois das tropas do Sr. Assad – auxiliadas por combatentes do grupo militante Hezbollah – terem conquistado a estratégica cidade de Qusayr […] Washington receia que grande parte da rebelião esteja à beira do colapso» (NYT, 13.6.13). A cruzada imperialista no Médio Oriente arrisca uma derrota de enormes consequências. Et voilá les armes chimiques! grita Fabius, «o Químico».
A farsa é grotesca, mas ameaça transformar a tragédia em catástrofe. Desde há muito que a Síria está a ser destruída por mercenários armados, pagos e apoiados pelos EUA, Inglaterra, França, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, Jordânia (e outros). Em Maio, Israel bombardeou Damasco. A Rússia ripostou reforçando o seu apoio ao governo sírio. O Hezbollah ripostou entrando em acção no terreno. O Irão já declarou repetidamente que, caso seja necessário, entrará em acção em apoio do aliado sírio. Uma escalada da aventura militar imperialista no Médio Oriente arrisca-se a incendiar, não apenas a região, mas todo o planeta.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2064, 20.06.2013
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