"Existe um mito de um
Brasil onde tudo vai bem, porém a situação é bastante diferente"
Ricardo Antunes diz que Marina
Silva tem em certo sentido, como Lula, uma trajetória muito ampla, rica,
complexa e contraditória.
Começou como uma ambientalista crítica de esquerda, com muita vinculação com
as bases nos anos 70/80 porém, pouco a pouco, num processo amplo, mudou para
posições ambientalistas empresariais, moderadas, aceitando os transgénicos
e com boas relações com o capital financeiro.
Atualmente, intenta fazer
uma política de alianças que inclui desde os setores ambientalistas até
setores do capital financeiro. Já em 2010 teve uma importante votação e seu
nome ,todavia, está identificado com os setores mais “puros” e éticos do PT.
Na entrevista feita a Rebelion Ricardo Antunes comenta alguns dados da FAO a respeito dos avanços
tidos no governo do PT nos últimos anos no combate desnutrição
que baixou de 10.7 à 5%, também os pobres extremos de 17.5 à 3.5%, o
analfabetismo de 13.5 à 8.5%. Segundo Leonardo Boff, teólogo da libertação, “Está em risco as grandes conquistas do governo do PT”.
Eu acrescentaria uma pequena, mas importante, correção: o Governo não é só do PT.
Antunes diz que "Há que reconhecer que nos
governos do PT houve uma espécie de assistencialismo para os miseráveis e que existe o mito de um Brasil onde tudo vai bem, quando na realidade a situação é bastante diferente."
Entre outras constatações Ricardo Antunes diz o Brasil é um país onde a
desigualdade social se mantem muito alta e há uma grande concentração da
renda.
"Si se faz uma comparação
dos governos de Lula e Dilma, isto é, dos últimos 12 anos, com o
governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), se pode dizer que aqueles foram
menos nefastos com relação aos setores mais pobres, mais precarizados da
população periférica brasileira. Se olharmos com atenção as estatísticas, tivemos
20 milhões de novos empregos criados nos últimos 10 anos, desde 2002 à
2012, porém a grande maioria estão entre um salário e um salário e meio mínimos,
entre 740 1.100 reais, no cambio livre entre U$S 300/360, com o qual é
impossível viver, por isso há rebeliões todos os dias na periferia porque
para alugar um barraco numa favela é caríssimo.
A realidade é que o
governo do PT fracassou em sua política social, porém há que se reconhecer que
comparado com o de FHC, com Lula e agora Dilma, há uma espécie de assistencialismo
para os miseráveis.
O modelo econômico que
permitiu crescer a Lula e até a metade do governo de Dilma fracassou.
Tudo indica que teremos duas
candidatas mulheres, ambas do centro, tentando agradar aos capitais a
qualquer preço, dando-lhes garantias e prometendo-lhes benefícios para apresentar-
se uma mais amiga do capital que a outra.
Desgraçadamente, a
esquerda mais crítica, segundo Bourdieu, uma esquerda da esquerda, uma
idéia interessante, neste momento não tem nenhuma possibilidade de modificar a
situação eleitoral.
Para concluir, Dilma é
prisioneira de sua própia criação: sua política econômica está estancada mais ou
menos há dois anos, sua política social excluiu o diálogo com os movimentos
populares, inclusive com os sindicatos vinculados al PT, e agora tenta
recuperar o terreno perdido."
Há análise, acima, do sociólogo é uma constatação da realidade atual, mas não aponta caminhos de solução. De nada adiantam essas críticas que são as mesmas da direita raivosa; do PSDB, do Demo et caterva. Não creio que a solução seja açodar o PT. Antunes reconhece que a esquerda não tem nenhuma possibilidade de modificar a situação eleitoral. Eu acresceria, que enquanto estiver dividida, a esquerda tampouco te m condições de mudar o quadro político que está hegemonizado pelos oportunistas de centro e de direita. O discurso do sociólogo sinaliza para uma revolução. Com quem cara pálida?
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