Muito, muito desconfortável
CAPITALISMO = ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Jesus Castillo(Publicado En Lucha e Rebelion)
O titulo da equação pode ser demasiado simplista, e mesmo alarmista. Ele procura refletir o que eu acredito seja uma verdade muito, muito desconfortável: no contexto atual de desenvolvimento da mudança climática e do sistema capitalista de organização da produção, é impossível parar o primeiro sem ultrapassar o segundo.
As alterações climáticas vão entrar numa fase de mudanças bruscas se não evitarmos a temperatura atmosférica global aumente entre 2,0-5,0 ° C desde 1800 até o final do século (e já subiu cerca de 0,7 º C). A fase de brusca mudança climática seria muito dificil de ser contida, inclusive utilisando todos os esforços antrópicos possíveis, como teria permitido que um grande número de sistemas de retroalimentação positiva ,que se autoalimentariam, injetando grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera. Para evitar a abrupta mudança climática necessitamos estabilizar a concentração de dióxido de carbono na atmosfera entre 400-490 ppm, pelo menos, nos próximos 30 anos (atualmente está próxima de 485 ppm). Isso significa reduzir as emissões globais de GEE em cerca de 60%. Portanto, é evidente que uma ação rápida é vital para frear o aquecimento global no tempo.
Há reservas de petróleo suficiente para queimar causando uma abrupta mudança climática. Hoje entramos ou estamos prestes a fazê-lo, no pico mundial do petróleo (pico do petróleo), ou seja, já consumimos a metade das reservas mundiais. Sobra petróleo barato para uns 30-50 anos no rítmo atual de crescimento do consumo, ou seja, o suficiente para continuar a queimar até que a mudança climática entre na fase de brusca evolução. A isto se soma a queima de carvão disponível para mais de 100 anos, a taxas atuais de exploração, e de gás fóssil com depósitos para mais 50 anos.
Os combustíveis fósseis são a espinha dorsal do sistema de produção capitalista. Quatro companhias de petróleo estão entre as 10 maiores empresas (Exxon Mobil, Shell, Petrobras e PetroChina), e outras empresas intimamente relacionadas com os combustíveis fósseis, tais como fabricantes de automóveis e utilitários, também estão entre empresas mais poderosas do mundo . Essas "empresas negras" desempenham um papel fundamental na inércia do sistema para continuar a usar combustíveis fósseis até que deixem de ser lucrativas sua exploração, mesmo estejam diversificando seus investimentos em energias renováveis, veículos elétricos, etc
Além da competição entre grupos empresariais, a concorrência entre os diferentes blocos capitalista também promove o consumo de combustíveis fósseis até que deixem de ser fontes de energia relativamente baratas, competitivas. Assim, a China e os Estados Unidos, com as maiores reservas de carvão no mundo, as continuarão queimando, até que os seja mais rentável deixa-las sob a terra, o que parece improvável que isso aconteça a médio prazo; especialmente na China, com baixas exigências na legislação ambiental e mão-de-obra muito barata.
Ainda há que ser acrescentado que a mudança climática é negócio, e negócio em torno da adaptação (lidar com suas conseqüências) é largamente superior a mitigação relacionadas (redução de emissões ou seqüestro de GEE em sumidouros). Portanto, para o grande capital é mais benéfico promover a mudança climática, pois gera mais lucros, do que parar; algo especialmente importante em momentos nos quais se tenta sair de uma recessão profunda, quando qualquer exploração de negócios tendem a serrentabilizados por grandes capitais fortalecidos em consequência da crise.
Tendo em conta os cinco pontos descritos aqui de forma muito breve, podemos concluir que, embora se possa reduzir as emissões de GEE em mais de 60% nos próximos 30 anos (controlando a demanda de energia, aumentando a eficiência e investir maciçamente em fontes renováveis) e controlar a mudança climática, isso não irá acontecer no âmbito do sistema de organização da produção atual. Isso explicaria os fracassos das recentes reuniões internacionais , de luta contra as alterações climáticas realizadas em Copenhagem e Cancun.
As lutas sociais, de caráter anti-capitalista, devem ocorrer com muita fintensidade, para mudar a dinâmica atual do tempo de consumo de combustíveis fósseis e das consequências de sua desastrosa exploração.Lutas que deverão nos livrar da evolução natural do sistema capitalista promovida por sucessivos problemas ambientais como inicios de ciclos de investimentos. Protestos contra as mudanças climáticas devem ser massivas e por em cheque o princípio da acumulação capitalista, do crescimento contínuo e acelerado.
Infelizmente, se não superarmos o capitalismo, nas próximas décadas, muitos seres humanos que hoje povoam o nosso planeta irão testemunhar se o cenário descrito acima é verdadeiro ou, pelo contrário, como desejo, esteja errado.
Jesus Castillo, é um militante e professor de Ecologia da Universidade de Sevilha.Autor do livro Migrações Ambientais
Tradução e adaptação: Valdir Izidoro Silveira
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