Filipe Diniz
14.Jan.13
O branqueamento de capitais está, como é sabido, presente em várias das sucessivas “bolhas especulativas” cujo rebentamento é um dos nós centrais na eclosão da actual crise capitalista. Nas operações financeiras com que o grande capital vem gerando superlucros, muito do dinheiro em causa nem tem passado, nem traz marcas. Se tivesse, é muito provável que seria o rasto de todo o género de tráficos criminosos.
Há uma semana Jorge Cadima escrevia sobre a «velha banca» que branqueia capitais.
Por uma curiosa coincidência, o Economist (5.01.2013) escreve sobre os investigadores a que as grandes empresas transnacionais vêm recorrendo para verificar se os parceiros com quem negoceiam são ou não aldrabões («crooks»). Não deixa de ter um certo encanto esta imagem do capitalismo actual: o de aldrabões contratando investigadores para verificar outros aldrabões. Mas onde o Economist quer chegar é a outro lado. É a fazer crer que estes dinheiros e estas operações sujas prejudicam o grande capital, e que este pretende evitá-las. Diz que a multa que o banco HSBC pagou é um sinal de alarme. Mas, na realidade, não deve constituir grande problema: entre 2006 e 2008 quatro bancos norte-americanos pagaram um total de 111,6 milhões de dólares para evitarem processos, e nenhum deles faliu, naturalmente.
Pelo contrário. Um alto funcionário do departamento da ONU que acompanha as questões do branqueamento de capitais opinou não há muito que foi sobretudo o dinheiro dos cartéis da droga que salvou numerosos bancos face à crise financeira de 2008. E não são as cortinas de fumo do Economist que podem ocultar uma realidade fundamental: a de que existe uma estreita inserção das grandes redes do crime organizado na estrutura global do imperialismo, e de que um dos aspectos em que o quadro mundial se agravou profundamente com a queda dos países socialistas do Leste europeu é precisamente esse. Basta olhar para o Afeganistão, onde um dos resultados evidentes da ocupação imperialista é a produção de ópio ter mais do que duplicado em relação a 1995. Num quadro geral de financeirização das economias e de crise do capitalismo, como poderia o capital bancário prescindir dos capitais oriundos de uma actividade que representa mais de 1% do PIB mundial, e cuja origem criminosa, no fundo, não está muito distante da origem dos capitais «legítimos»?
Lénine afirmou que «o capitalismo, na sua fase imperialista, conduz à socialização integral da produção nos seus mais variados aspectos». Na sua extrema degradação actual, inclui a socialização do crime organizado.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2041, 10.01.2013
Por uma curiosa coincidência, o Economist (5.01.2013) escreve sobre os investigadores a que as grandes empresas transnacionais vêm recorrendo para verificar se os parceiros com quem negoceiam são ou não aldrabões («crooks»). Não deixa de ter um certo encanto esta imagem do capitalismo actual: o de aldrabões contratando investigadores para verificar outros aldrabões. Mas onde o Economist quer chegar é a outro lado. É a fazer crer que estes dinheiros e estas operações sujas prejudicam o grande capital, e que este pretende evitá-las. Diz que a multa que o banco HSBC pagou é um sinal de alarme. Mas, na realidade, não deve constituir grande problema: entre 2006 e 2008 quatro bancos norte-americanos pagaram um total de 111,6 milhões de dólares para evitarem processos, e nenhum deles faliu, naturalmente.
Pelo contrário. Um alto funcionário do departamento da ONU que acompanha as questões do branqueamento de capitais opinou não há muito que foi sobretudo o dinheiro dos cartéis da droga que salvou numerosos bancos face à crise financeira de 2008. E não são as cortinas de fumo do Economist que podem ocultar uma realidade fundamental: a de que existe uma estreita inserção das grandes redes do crime organizado na estrutura global do imperialismo, e de que um dos aspectos em que o quadro mundial se agravou profundamente com a queda dos países socialistas do Leste europeu é precisamente esse. Basta olhar para o Afeganistão, onde um dos resultados evidentes da ocupação imperialista é a produção de ópio ter mais do que duplicado em relação a 1995. Num quadro geral de financeirização das economias e de crise do capitalismo, como poderia o capital bancário prescindir dos capitais oriundos de uma actividade que representa mais de 1% do PIB mundial, e cuja origem criminosa, no fundo, não está muito distante da origem dos capitais «legítimos»?
Lénine afirmou que «o capitalismo, na sua fase imperialista, conduz à socialização integral da produção nos seus mais variados aspectos». Na sua extrema degradação actual, inclui a socialização do crime organizado.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2041, 10.01.2013
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