domingo, 29 de setembro de 2013

OS 161 VAMPIROS DO CAPITALISMO (II)


 A classe capitalista transnacional (CCT)

Elites do poder capitalista existem em todo o mundo. A globalização do comércio e do capital leva as elites do mundo a relacionamentos cada vez mais interconectados – até o ponto em que sociólogos começaram a teorizar o desenvolvimento de uma classe capitalista transnacional (CCT) (transnational capitalist class). Num dos trabalhos pioneiros neste campo, The Transnational Capitalist Class  (2000), Leslie Sklair argumentou que a globalização elevou as corporações transnacionais (TNC) a papéis mais influentes, com o resultado de que nações-estado tornaram-se menos significantes do que acordos internacionais desenvolvidos através da Organização Mundial de Comércio (OMC) e outras instituições internacionais.
[8] A emergir destas corporações multinacionais estavam uma classe capitalista transnacional, cujas lealdades e interesses, se bem que ainda enraizadas nas suas corporações, eram cada vez mais de âmbito internacional. Sklair escreveu:
A classe capitalista transnacional pode ser analiticamente dividida em quatro fracções principais: (i) proprietários e controladores das TNC e suas filiais locais; (ii) burocratas e políticos da globalização; (iii) profissionais da globalização; (iv) elites promotoras do consumo (comerciantes e media). Também é importante notar, naturalmente, que a CCT e cada uma das suas frações nem sempre está inteiramente sobre todas as questões. No entanto, em conjunto, as pessoas principais nestes grupos constituem uma elite do poder global, a classe dominante ou círculo interno no sentido de que estas expressões têm sido utilizadas para caracterizar as estruturas da classe dominante de países específicos. [9]
Seguiu-se William Robinson em 2004 com o seu livro A Theory of Global Capitalism: Production, Class, and State in a Transnational World. [10] Robinson afirmou que 500 anos de capitalismo haviam levado a uma mudança de época na qual toda atividade humana é transformada em capital. Deste ponto de vista, o mundo tornou-se um mercado único (single market), o qual privatizou relacionamentos sociais. Ele viu a CCT como a partilhar cada vez mais estilos de vida, padrões de educação superior e consumo semelhantes. A circulação global de capital está no cerne de uma burguesia internacional, a qual opera em grupos (clusters) oligopólicos por todo o mundo. Estes grupos de elites formam alianças transnacionais estratégicas através de fusões e aquisições com o objetivo de concentração acrescida da riqueza e do capital. O processo cria uma poliarquia de elites hegemÔnicas. A concentração de riqueza e poder a este nível tende à super-acumulação, levando a investimentos especulativos e guerras. A CCT faz esforços para corrigir e proteger seus interesses por meio de organizações globais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o G20, o Fórum Social Mundial, a Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, o Banco Internacional de Pagamentos e outras associações transnacionais. Robinson afirmou que, dentro deste sistema, nações-estado tornam-se pouco mais do que zonas de contenção de população e que o poder real jaz nos decisores que controlam o capital global. [11]

Uma visão mais profunda da classe capitalista transnacional é o que David Rothkopf denomina a "super-classe". No seu livro de 2008, Superclass: The Global Power Elite and the World They Are Making, Rothkopf argumentou que a super-classe é constituída por 6000 a 7000 pessoas, ou 0,0001 por cento da população mundial.
[12] Elas são as que comparecem a Davos, voam em jatos privados Gulfstream, pejados de dinheiro, integrados em mega-corporações, elites construtoras da política do mundo, pessoas no pico absoluto da pirâmide do pode global. São 94 por cento homens, predominantemente branco e principalmente da América do Norte e da Europa. Rothkopf afirmou que estas são as pessoas que estabelecem as agendas no G8, G20, OTAN, Banco Mundial e OMC. Elas são provenientes dos mais altos níveis do capital financeiro, das corporações transnacionais, do governo, dos militares, da academia, de organizações não governamentais, líderes espirituais e outras elites sombra. (Elites sombra incluem, por exemplo, a política profunda de organizações de segurança nacional em conexão com cartéis internacionais de droga, os quais extraem 8000 toneladas de ópio por ano das zonas de guerra dos EUA, então lavam US$500 mil milhões através de bancos transnacionais, metade dos quais tem sede nos EUA.) [13]

A definição de Rothkopf da super-classe enfatizou sua influência e poder. Embora haja mais de 1.500 bilionários no mundo, nem todo são necessariamente parte da super-classe em termos de influência nas políticas globais. Ainda assim estes 1.500 bilionários possuem duas vezes tanta riqueza quanto os 2,5 mil milhões de pessoas menos ricas e eles estão plenamente conscientes destas amplas desigualdades. Os bilionários dentro da CCT são semelhantes a proprietários de plantações coloniais. Eles sabem que são uma pequena minoria com vastos recursos e poder, além disso devem preocupar-se continuamente com a possibilidade de massas exploradas insubordinarem-se em levantarem-se em rebelião. Em consequência destas inseguranças de classe, a CCT trabalha para proteger sua estrutura de riqueza concentrada. A protecção do capital é a primeira razão porque países da NATO agora representam 85 por cento da despesa mundial com defesa, com os EUA a gastarem mais com militares do que o resto do mundo somado.
[14] Temores de rebeliões motivadas pela desigualdade e outras formas de inquietação são a motivação da agenda global da OTAN na guerra ao terror. [15]

Sem comentários:

Enviar um comentário