A partir dessa primeira matéria estaremos divulgando algumas partes do livro de Ludo Martens, falecidoem 2011, " Um outro olhar", sobre o grande líder russo Josef Stalin, timoneiro da luta e derrota do tirano e assassino dos judeus Hitler.
A coletivização
e o «holocausto ucraniano»
As mentiras
debitadas sobre a coletivização foram sempre as armas prediletas da
burguesia na guerra psicológica contra a União Soviética. Analisamos
aqui o mecanismo de uma das mentiras mais «populares», a do holocausto cometido
por Stáline contra o povo ucraniano. Esta calúnia brilhantemente elaborada
devemo-la ao gênio de Hitler. Noseu Mein
Kampf, escrito em 1926, já tinha indicado que a
Ucrânia pertencia ao «lebensraum» [espaço vital] alemão. A campanha lançada pelos nazis em 1934-1935,
sobre o tema do «genocídio» bolchevique na Ucrânia, destinava-se a preparar os
espíritos para a projetada «libertação» da Ucrânia. Veremos por que esta
mentira sobreviveu aos seus criadores nazis para se tornar numa arma americana.
Eis como nasceram as fábulas sobre os «milhões de vítimas do stalinismo».
Em 18 de
Fevereiro de 1935, nos Estados Unidos, a imprensa de Hearst – o grande
magnata da
imprensa e simpatizante dos nazis – inicia a publicação de uma série de
artigos de Thomas Walker, apresentado como grande viajante e
jornalista, que viajou através da União Soviética durante vários anos. À cabeça
da primeira página do Chicago American, de 25 de Fevereiro, surgiu um título enorme: «A fome na União Soviética faz seis milhões de mortos. Colheita dos
camponeses confiscada, homens e animais rebentam». A meio da página, um outro
título: «Jornalista arrisca a vida para obter fotos da carnificina». No rodapé: «Fome – crime contra a
humanidade».1
Na época, Louis Fischer trabalhava em Moscovo para o jornal The Nation. A matéria do seu
colega, um ilustre desconhecido, intriga-o profundamente. Por isso investiga o
caso e apresenta as conclusões aos leitores do seu jornal.
«O senhor Walker informa-nos que entrou
na Rússia na última Primavera, ou seja, a Primavera de 1934. Ele viu a fome.
Fotografou as suas vítimas. Recolheu testemunhos em primeira mão sobre a devastação
da fome que vos despedaçaram o coração. A fome na Rússia tornou-se um tema
muito quente. Por que razão teria o senhor Hearst guardado estes artigos
sensacionais durante dez meses antes de publicá-los? Decidi consultar as
autoridades soviéticas sobre o assunto. Thomas Walker esteve uma única vez na
União Soviética. Recebeu um visto de trânsito no consulado soviético, em
Londres, no dia 29 de Setembro de 1934. Entrou na URSS a partir da Polónia, de
comboio, em Negoréloe, no dia 12 de Outubro de 1934. Não na Primavera, como
afirmou. No dia 13 chegou a Moscovo. Permaneceu em Moscovo de sábado, 13, a
quinta-feira, 18, e tomou em seguida o Transiberiano que o levou à fronteira
entre a União Soviética e a Manchúria em 25 de Outubro de 1934 (...) Teria sido
impossível a Mr. Walker, nos cinco dias compreendidos entre 13 e 18, percorrer
um terço dos pontos que “descreve” por experiência própria. Minha hipótese é
que permaneceu tempo
suficiente em Moscovo para obter no azedume de terceiros a
“cor local” ucraniana de que necessitava para dar a seus artigos a falsa
verosimilhança que têm.»
Um amigo de Fisher, também americano, Lindsay Parrot, havia estado na
Ucrânia no começo de 1934. Não viu qualquer sequela da fome de que fala a
imprensa de Hearst.
Pelo contrário, a colheita de 1933 tinha sido abundante. Fisher
conclui: «A organização de Hearst e os nazis
desenvolvem uma cooperação cada vez mais estreita. Não vi que a imprensa de
Hearst tivesse publicado os relatos do Sr. Parrot sobre uma Ucrânia soviética
próspera. O Sr. Parrot é o correspondente do Sr. Hearst em Moscovo...»2
Na legenda
da fotografia de uma pequena rapariga e uma criança esquelética, Walker
escreveu: «Terrível! A Norte de Khárkov, uma
rapariga muito magra e o seu irmão de dois anos e meio. Esta criança rastejava pelo chão como um
sapo e seu pobre pequeno corpo estava tão deformado por falta de comida que não
parecia humano.»
Douglas Tottle, sindicalista e jornalista canadiano, que consagrou um
livro
notavelmente bem documentado sobre o mito do «genocídio ucraniano»,
descobriu a fotografia da criança-sapo, supostamente datada da Primavera de
1934, numa publicação de 1922 sobre a fome na Rússia. Uma outra foto de Walker
foi identificada como sendo a de um soldado da cavalaria austríaca, ao lado de
um cavalo morto, tirada durante a I Guerra Mundial.3
Triste senhor Walker: a sua reportagem é falsa, as suas fotos são
falsas, até ele próprio é falso. O verdadeiro nome deste homem é Robert Green.
Evadiu-se da prisão do Estado de Colorado após ter cumprido dois anos de uma
pena de oito. Depois foi inventar a sua reportagem para a União Soviética. No
regresso aos Estados Unidos foi preso e reconheceu diante do Tribunal jamais
ter posto os pés na Ucrânia.
O multimilionário Wiliam Randolph Hearst encontrou-se com Hitler no
final do Verão de 1934 para concluir um acordo estipulando que a Alemanha
passaria a comprar as suas notícias internacionais ao International New Service, uma
agência que pertencia ao grupo Hearst. Nessa época, a imprensa nazi já tinha iniciado
uma campanha sobre «a fome na Ucrânia». Hearst dará a sua contribuição graças à
imaginação do seu grande explorador, o sr. Walker.4
Na imprensa
de Hearst apareceram outros testemunhos do mesmo gênero sobre a
fome. Um certo Fred Beal pô-los em letra de forma. Operário americano
condenado a 20 anos de prisão na sequência de uma greve, Beal refugiou-se na
União Soviética no ano de 1930, trabalhando durante dois anos na fábrica de tratores
de Khárkov. Em 1933, publica um pequeno livro intitulado Foreign workers in a Soviete Tractor Plant, onde relata com simpatia os esforços do povo soviético. No final de
1933, regressa aos Estados Unidos. Encontra o desemprego, mas também a prisão.
Em 1934, começa a escrever sobre a fome na Ucrânia, após o que as autoridades
reduzem de forma significativa a sua pena. Quando o seu «testemunho» é
publicado por Hearst, em Junho de 1935, J. Wolynec, um outro americano que
tinha trabalhado cinco anos na mesma fábrica em Khárkov, apontará as mentiras
que entremeavam o texto. Sobre as inúmeras conversas que Beal alegava ter
registrado, Wolynec nota que Beal não falava nem russo nem ucraniano. Em 1948,
Beal ofereceu outra vez os seus serviços à extrema-direita como
testemunha de acusação contra comunistas perante o Comité McCarthy.5
Um livro com a chancela de Hitler.
Em 1935 é
publicado em alemão o livro Muss Russland
hungern?, do Dr. Ewald
Ammende. Tem
como fontes a imprensa nazi alemã, a imprensa fascista italiana, a
imprensa dos emigrados ucranianos e «viajantes» e «especialistas»,
assim citados, sem qualquer outra precisão. Publica fotografias que afirma
«constarem entre as fontes mais importantes sobre a realidade actual da
Rússia». «A maior parte foi tirada por um especialista austríaco», explica
laconicamente Ammende. Há também fotos pertencentes ao Dr. Ditloff, que foi,
até Agosto de 1933, director da Concessão Agrícola do governo alemão no Cáucaso
do Norte. Didoff afirma ter fotografado, no Verão de 1933, «nas regiões
agrícolas da zona da fome». Ora sendo Ditloff funcionário do governo nazi, como
teria podido deslocar-se do Cáucaso até Ucrânia para caçar tais
imagens? Das fotos de Ditloff, sete já tinham sido publicadas por Walker, entre
as quais está a da «criança sapo». A fotografia que
mostra dois jovens esqueléticos, símbolos da fome ucraniana de 1933,
pôde ser vista na série televisiva La Russie, de Peter Ustinov. Foi retirada de um filme-documentário sobre a fome
na Rússia de 1922! Uma outra foto de Ammende, afinal
também já tinha sido publicada pelo órgão nazi Volkischer Beobachter, em 18 de Agosto de
1933, e foi igualmente identificada em livros datados de 1922.
Ammende
tinha trabalhado na região do Volga em 1913. Durante a Guerra Civil de
1917-1918, ocupou cargos nos governos contra-revolucionários
germanófilos da Estónia e da Letónia. Depois trabalhou para o governo de
Skoropádski, instalado pelo exército alemão na Ucrânia, em Março de 1918.
Afirmou ter participado nas campanhas de ajuda humanitária durante a fome na
Rússia de 1921-1922, o que explica a sua familiaridade com o material
fotográfico dessa época. Durante anos, Ammende foi o secretário-geral do denominado
«Congresso Europeu das Nacionalidades», próximo do Partido Nazi, que reunia
emigrados da União Soviética. No final de 1933, Ammende torna-se secretário honorário
do «Comité de Ajuda às regiões atingidas pela fome na Rússia», dirigido pelo cardeal
pró-fascista Innitzer, em Viena. Ammende esteve portanto estreitamente ligado a
toda a campanha anti-soviética dos nazis.
Quando Reagan lançou a sua cruzada anticomunista no começo dos anos
80, o
professor James E. Mace, da Universidade de Harvard, julgou oportuno
reeditar e
prefaciar o livro de Ammende sob o título Human Life in Rússia. Estávamos no ano
de 1984. Desta forma, todas as falsificações nazis, os falsos documentos
fotográficos e a pseudo-reportagem de Walker na Ucrânia obtiveram a
respeitabilidade acadêmica associada ao nome de Harvard.
No ano
anterior, emigrados de extrema-direita ucranianos haviam publicado, nos
Estados Unidos, The Great Famine in Ukraine: The
Unknow Holocaust. Douglas Tottle pôde verificar que todas as fotografias deste livro
datam dos anos 1921-1922. Por exemplo, a foto da capa pertence ao doutor F.
Nansen, do Comité Internacional de Ajuda à Rússia, e foi publicada em Information n.º 22, Génova, 30
de Abril de 1922, pág. 66.
O revisionismo dos neonazis «revê» a história para justificar, antes
de tudo, os crimes bárbaros do fascismo contra a União Soviética. Os neonazis negam
também os crimes cometidos pelos hitlerianos contra os judeus. Negam a
existência dos campos de extermínio onde pereceram milhões de judeus. E
inventam «holocaustos» pretensamente cometidos pelos comunistas e pelo camarada
Stáline. Com esta mentira, fabricam uma justificação das matanças bestiais que
os nazis cometeram na União Soviética. E para este revisionismo ao serviço da
luta anticomunista, receberam o pleno apoio de Reagan, Bush, Thatcher e
companhia.(continua)
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