A consigna dos hitlerianos
«Contra
Hitler e contra Stáline», tal foi a consigna sob a qual antigos hitlerianos e a
CIA uniram os seus esforços. Os mais desprevenidos poderão pensar que
a fórmula
«contra o fascismo e contra o comunismo» é uma espécie de «terceira
via», mas não é nada disso. Na verdade, após a derrota nazi, esta fórmula
juntou os antigos partidários da Grande Alemanha e os seus sucessores
americanos, que visavam a hegemonia mundial.
Como Hitler foi relegado ao passado, a extrema-direita alemã,
ucraniana, croata, etc., uniu-se à extrema-direita americana. Uniram esforços
contra o socialismo e contra a União Soviética, que tinha carregado o peso
essencial da guerra antifascista. Para reunirem todas as forças burguesas,
cobriram o socialismo com um dilúvio de mentiras, afirmando que era pior que o
nazismo. A fórmula «contra Hitler e contra Stáline» serviu para a fabulação dos
«crimes» e «holocaustos» de Stáline, para melhor camuflar e, em seguida, negar
terminantemente os crimes monstruosos e os holocaustos de Hitler.
Em 1986, os
veteranos do Exército Insurrecional Ucraniano, os mesmos que
afirmaram ter lutado «contra Hitler e contra Stáline», publicaram um
livro intitulado Por Que Valerá Mais Um Holocausto Que
Outro?, escrito por um antigo membro do EIU, Iúri
Chumátski. Lamentando que «historiadores revisionistas neguem a existência de
câmaras de gás e afirmem que menos de um milhão de judeus foram mortos ou foram
perseguidos», Chumátski acrescenta: «Segundo
as
declarações dos sionistas, Hitler matou seis milhões de
judeus, mas Stáline, apoiado pelo aparelho de Estado judeu, conseguiu matar dez
vezes mais cristãos.»32
As fontes fascistas de Conquest
Se, em Harvest of Sorrow, Conquest recupera
a versão da história dos nazis
ucranianos é porque os antigos efectivos da divisão Waffen-SS Galitchina e do Exército Insurrecional
Ucraniano lhe forneceram o essencial das suas «fontes» sobre a «fome genocida »
de 1932-1933!
Eis as provas. O segundo capítulo, a parte crucial de Harvest of Sorrow, intitula-se «A fome
dá raiva». Contém uma lista impressionante de 237 referências. Mas um olhar um pouco
mais atento mostra-nos que mais da metade conduzem a emigrados de direita ucranianos.
A obra dos fascistas ucranianos Black
Deeds of the Kremlin está citada
55 vezes!
No mesmo
capítulo, Conquest cita 18 vezes o livro The Ninth
Circle, de Olexa
Woropay,
publicado em 1953 pelo movimento juvenil da organização fascista de Stepan Bandera.
O autor apresenta a sua biografia detalhada nos anos 30, mas nada diz sobre as suas
atividades durante a ocupação! Uma confissão mal disfarçada do seu passado
nazi.
Recomeça a sua biografia em 1948, na cidade Munique, onde muitos
fascistas ucranianos encontraram refúgio. Foi lá que entrevistou ucranianos
sobre a «fome-genocídio» de 1932-1933. Nenhuma das «testemunhas» está
identificada, o que torna o trabalho desprovido de qualquer caráter científico.
Nada nos diz sobre a atividade das testemunhas durante a guerra, o que levanta
a hipótese provável de se tratar de nazis ucranianos em fuga que «revelam a
verdade sobre o stalinismo.»33
Beal, que
colaborou com a polícia americana e escreveu na imprensa pró-nazi de
Hearst, é
citado cinco vezes por Conquest. Krávtchenko, emigrado anticomunista, serviu duas
vezes de fonte, Lev Kópelev, outro emigrado russo, cinco vezes. Entre as
referências científicas, figura em lugar destacado um romance de Grossman, ao
qual Conquest se refere 15 vezes.
Conquest cita as entrevistas do Projet
Refugies de Harvard, financiado pela CIA. Cita o Comitê do
Congresso sobre a Agressão Comunista do tempo de MacCarthy, o livro nazi de
Ewald Ammende, publicado em 1936. Conquest refere-se cinco vezes a Eugène Lyons
e a William Chamberlain, dois homens que exerceram funções no comité de direção
da Radio Liberty, a estação da CIA.
Na página 244, Conquest cita «um americano» que viu pessoas famintas
«numa aldeia a 30 quilómetros a Sul de Kíev»: «Numa cabana, ferviam uma porcaria que era impossível de descrever». Referência: New York Evening
Journal, 18 de Fevereiro de 1933. Na realidade, trata-se
do artigo de Thomas Walker na imprensa de Hearst, publicado em 1935! Conquest
alterou deliberadamente a data do jornal para que coincidisse com a fome de
1933. Conquest não identifica o americano: receou que alguém se recordasse que
Thomas Walker era um falsificador que nunca pôs os pés na Ucrânia.
Conquest é
um falsificador.
Para
justificar a utilização de livros de emigrados relatando boatos e rumores,
Conquest declarou: «Desta
forma, a verdade não pode ser filtrada senão sob a forma de boatos» e «sobre questões políticas, a melhor
fonte – apesar de não ser infalível – é o rumor».34 Isto é elevar a
intoxicação, a desinformação, as mentiras fascistas ao nível da respeitabilidade acadêmica.
As causas da fome na Ucrânia
Em 1932-1933
houve fome na Ucrânia. Mas foi provocada principalmente pela luta de morte que
a extrema-direita ucraniana moveu contra o socialismo e contra a
coletivização da agricultura. No decurso dos anos 30, esta
extrema-direita ligada aos hitlerianos já tinha utilizado a fundo o tema da
«fome provocada deliberadamente para exterminar o povo ucraniano». Após a II
Guerra Mundial esta propaganda foi «ajustada» com o objetivo principal de
encobrir os crimes cometidos pelos nazis e mobilizar as forças do Ocidente
contra o comunismo.
Com efeito,
desde o começo dos anos 50, a realidade do extermínio de seis milhões de judeus
impôs-se ante a consciência mundial. A extrema-direita mundial tinha
necessidade de uma quantidade superior de mortos «vítimas do terror
comunista». E, em 1953, o ano do macartismo triunfante, assistiu-se a um
crescimento espetacular do número de mortos na Ucrânia durante a fome ocorrida
20 anos antes. Como os judeus tinham sido mortos de forma deliberada,
científica, era necessário que «o extermínio» do povo ucraniano tomasse também
a forma de um genocídio cometido a sangue frio. A extrema-direita, que nega com
convicção o holocausto dos judeus, inventa então o holocausto ucraniano!
A fome de 1932-1933 na Ucrânia teve quatro causas. Antes de mais foi
provocada pela verdadeira guerra civil desencadeada pelos kulaques e os
elementos reacionários contra a coletivização da agricultura.
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