EUA vão financiar força militar africana
Carlos Lopes Pereira
A promessa de milhões de dólares de investimentos em África e a certeza do reforço da ingerência militar norte-americana no continente africano. Estes foram os principais resultados da primeira cimeira Estados Unidos-África, este mês, em Washington.
A promessa de milhões de dólares de investimentos em África e a certeza do reforço da ingerência militar norte-americana no continente africano. Estes foram os principais resultados da primeira cimeira Estados Unidos-África, este mês, em Washington.
Participaram quase 50 dirigentes africanos. Só não foram convidados os presidentes Robert Mugabe, do Zimbabwé, Omar el-Béchir, do Sudão, e Issayas Afewerki, da Eritreia, que os anfitriões consideram não serem suficientemente democratas… E também a presidente Catherine Samba-Panza, da República Centro-Africana, «suspensa» pela União Africana devido à guerra civil que devasta o país após a intervenção militar francesa. Faltaram os presidentes Ellen Sirleaf, da Libéria, e Ernest Koroma, da Serra Leoa, retidos pelo avanço da epidemia de ébola. Não marcaram igualmente presença José Eduardo dos Santos, de Angola, Mohamed VI, de Marrocos, Abdelaziz Bouteflika, da Argélia, e Abdel al-Sissi, do Egipto. Mas todos enviaram representantes. Para além de um faustoso banquete na Casa Branca, de vistosos cortejos automóveis, das sessões de fotos do casal Obama com os sorridentes chefes de estado e esposas, a cimeira abordou questões de governação, segurança e negócios.Como refere a revista Jeune Afrique, Barack Obama não se esqueceu de evocar as suas origens africanas mas deixou para o vice-presidente Joe Biden e o secretário de Estado John Kerry as «lições» sobre democracia e direitos humanos, sobre «boa governança, transparência e luta contra a corrupção».
Os negócios, naturalmente, também fizeram parte da agenda da cimeira de Washington. Os responsáveis africanos insistiram na necessidade de prolongar o African Growth and Opportunity Act, que facilita as exportações de produtos manufacturados de África para os EUA. Nessa e em outras matérias, Obama precisa do aval do Congresso, que não controla. O que não o impediu de anunciar acordos comerciais e investimentos (sobretudo no sector energético) no valor de 37 mil milhões de dólares, até 2020. Só uma parte dessas verbas sairá do orçamento federal, já que o essencial será financiado por instituições multilaterais e por grupos privados. Os EUA pretendem deste modo recuperar o atraso nas relações económicas com «uma das regiões mais dinâmicas do mundo», a África, onde a China se tem afirmado como parceiro privilegiado que não impõe condições aos governos e não explora os povos. Reflexo desta competição, na última década as trocas EUA-África duplicaram e em 2013 atingiram 63 mil milhões de dólares. Mas, no mesmo período, o comércio China-África cresceu 20 vezes, chegando aos 210 mil milhões de dólares. E há outros países, como a Índia e o Brasil – além da França neocolonialista –, com interesses económicos em África, cujo PIB cresce 5% ao ano e representa um mercado de mais de mil milhões de habitantes…
Garantir os interesses dos EUA
Quanto a «segurança», Obama anunciou, a pretexto da luta contra o «terrorismo», um programa de «auxílio» a seis países (Gana, Quénia, Mali, Níger, Nigéria e Tunísia) para «formar e reforçar a eficácia das suas forças de segurança».
Mais: os EUA vão dar uma ajuda financeira anual de 110 milhões de dólares, durante três a cinco anos, aos estados que têm contribuído para operações de manutenção da paz (Gana, Senegal, Ruanda, Tanzânia, Etiópia e Uganda). O objectivo é criar uma «força africana de reacção rápida» para intervir em situações de crise – força, assim, constituída por tropas africanas treinadas, armadas e pagas pelos Estados Unidos…Por ocasião da cimeira, o Washington Post explicava que as autoridades norte-americanas defendem a necessidade de uma «interacção» mais estreita entre as instituições militares estado-unidenses e africanas. Em sete anos, lembra o Post, o comando africano (Africom) do Pentágono ampliou as actividades militares no continente.
Mais: os EUA vão dar uma ajuda financeira anual de 110 milhões de dólares, durante três a cinco anos, aos estados que têm contribuído para operações de manutenção da paz (Gana, Senegal, Ruanda, Tanzânia, Etiópia e Uganda). O objectivo é criar uma «força africana de reacção rápida» para intervir em situações de crise – força, assim, constituída por tropas africanas treinadas, armadas e pagas pelos Estados Unidos…Por ocasião da cimeira, o Washington Post explicava que as autoridades norte-americanas defendem a necessidade de uma «interacção» mais estreita entre as instituições militares estado-unidenses e africanas. Em sete anos, lembra o Post, o comando africano (Africom) do Pentágono ampliou as actividades militares no continente.
Com sede em Stuttgart (Alemanha), o Africom conta com dois mil efectivos permanentes e mais cinco mil soldados que cumprem «missões itinerantes» – da Líbia, Mali e Níger à República Centro-Africana, Somália e Sudão do Sul.Na mesma altura, o diário Granma, de Havana, recordava que a maior base militar norte-americana em África é Camp Lemonnier, no Djibuti, antes um bastião da Legião Estrangeira francesa. Com capacidade para quatro mil soldados, Lemonnier tem o maior aeródromo da África Oriental, que os yankees utilizam «como ponto de partida das suas operações com drones contra supostos terroristas no Iémen e no Corno de África». Nessa base aero-naval «recebem instrução soldados do Níger, Chade, Nigéria e de outros países». Para garantir os «negócios» dos EUA em África…
* Jornalista
Este texto foi originalmente publicado no Avante nº 2.125 de 21 de Agosto de 2014.* Jornalista
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