segunda-feira, 11 de agosto de 2014

RESISTENCIAS CONTRA O AGRONEGÓCIO PREDADOR




Ao comemorar os 20 anos a Revista  Biodiversidad, ativistas e  profissionais de diferentes países da América Latina debateram em San José da Costa Rica, sobre as experiências das lutas e  resistências  ante os embates do modelo extrativista do agronegócio.

A defesa do direito de resgatar, proteger, conservar e promover as sementes  crioulas, lutando contra a expansão das monoculturas, a invasão dos transgenicos e a criação de marcos jurídicos, que estão a favor   dos interesses corporativos das transnacionais do agronegócio, é algo que atinge diferentes países de América Latina.

Carlos Vicente, membro da equipe regional de Grain, conta que a invasão da soja transgénica na Argentina  supera 20 milhões de hectares -quatro vezes o territorio de Costa Rica-, e está acompanhada pelo uso anual de 30 milhões de litros de glifosato. Na Colombia, o cultivo de milho e  algodão geneticamente  modificado  tem crescido vertiginosamente, superando os  100 mil hectares.

No  Chile, o plantio  de transgénicos  aumentou em  1.200 por cento durante os últimos 15 anos, ocupando quase  36 mil hectares, isto é 4.8 por cento do total de superficie agrícola. Com a expansão do plantio de OGMs, também  cresceu a agressividade das grandes corporações que controlam o mercado das sementes.

Uma das estratégias de penetração e controle que transnacionais como a Monsanto  estão  usando em toda a América Latina é a criação ou modificação das leis de sementes, sob a assinatura e ratificação dos Tratados de Livre Comércio (TLC).  "Estas leis são praticamente as mesmas em todos os países e são escritas pelas mesmas corporações. Aproveitam a ignorância e servilismo dos governos e políticos nacionais, e vão adaptando-as  aos padrões internacionais de proteção da propriedade intelectual ", disse  Camila Montecinos, engenheira agrônoma e membro da Red-.Grain.

O principal objetivo deste outro  tentáculo das transnacionais  é proibir o direito dos  agricultores e famílias de agricultores de guardar  suas sementes nativas.

"Isso tudo é parte do controle do agronegócio sobre os sistemas alimentares, na sua totalidade, o que gera mais ilegalidades e erosão genética das sementes crioulas, menos diversidade e oferta de alimentos, custos mais elevados e um grave atentado à soberania alimentar dos  países ", disse Carlos Vicente.

De acordo com dados de Grain, no século passado, se perdeu 75 por cento da diversidade agrícola mundial e a FAO reconhece que a principal causa desta perda é a agricultura indústria.



Colômbia e Chile são exemplos muito claros de como a tentativa de aprovar leis no âmbito do NAFTA e da Convenção Internacional para a Protecção das Obtenções Vegetais (UPOV 91), leva à criminalização dos camponeses e organizações que lutam pela resgate, conservação, utilização, manejo e livre circulação de sementes nativas.

Através da Resolução 970/2010 Instituto Colombiano Agropecuário (ICA), o governo procura regular tudo relacionado a sementes, definindo as únicas sementes que podem circular na Colômbia são as melhoradas e certificadas.


Para as pessoas que usam uma semente legalmente protegida ou muito semelhante a uma semente protegida legalmente, a pena é de 4 a 8 anos de prisão e até 1.500 salários mínimos de multa..

  No Chile, o projeto de lei para aprovar A  UPOV 91, mais conhecida como "Lei Monsanto" proíbe a reprodução e guardar sementes, sob pena de  confisco, destruição de culturas ou colheitas,aplicação de  multas e até prisão.

"Querem privatizar as sementes nativas através de artigos escritos de forma maliciosa, sob o pretexto de que se pode descobrir  variedades, aproveitá-las e adonar-se das que são parecidas", disse Camila Montecinos.

"Temos uma enorme diversidade de variedades de milhos crioulos que foram adaptados ao longo de centenas de anos, e que, agora passariam a se ilegais, porque as grandes  corporações as “ descobrem” , disse Carlos Vicente.

"É o mundo de cabeça para baixo, porque todas as sementes supostamente melhoradas foram feitas a partir das sementes crioulas(nativas).Estão  violando os direitos coletivos dos agricultores, quebrando o esquema ancestral milenar de intercambio das sementes”  afirmou  Germán Vélez, do Grupo de Sementes da Colômbia.


Apesar das muitas dificuldades, as resistências são multiplicados na América Latina e para alcançar resultados significativos, elevando o nível de conhecimento, conscientização e mobilização das populações e parando nas ruas e nos tribunais, os projetos de morte das  grandes corporações das sementes.

"Há um grande espectro de luta que está a travando o avanço dos agronegócios, enquanto constrói a consciência social da necessidade de uma distribuição equitativa da terra, a diversificação da produção agrícola e à recuperação e conservação de sementes nativas", concluiu Vicente

Fonte:Rel-UITA
Tradução e adaptação: Valdir Silveira

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