quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DEPOIS DOS ATENTADOS DE PARIS


 

 
A solidariedade é se mobilizar contra as políticas armamentistas  e a espiral de guerra



Vicky Torres

Rebelion

Como Noam Chomsky tem dito repetidamente, o governo dos Estados Unidos é o principal responsável por trazer a guerra para todos os cantos do mundo. Afirmação  que não minimiza a responsabilidade que recai sobre seus aliados, as dez potências economicas do mundo e outros países que acatam docilmente  na ONU aos ditames do governo norte-americano. Uma guerra em que para garantir a supremacia econômica, política e cultural do império do norte em todo o mundo, massacres diários de milhares de pessoas e se atropela  com total  impunidade a soberania e os direitos humanos.

Ainda está vivo na memória da minha geração o genocídio do povo vietnamita - que em 1954 se libertou do jugo colonial francês na batalha de Dien Bien Phu. Nem se esqueceu dos desembarques e da invasão das tropas dos EUA, e do apoio material e político que deu o governo dos Estados Unidos - e outros - às ditaduras que na América do Sul submetiam  seus povos, através da fome e terrorismo de Estado.

Nos últimos anos, a guerra contra as potências econômicas ocidentais foram transferidas para países em África (Mali) e Oriente Médio (Líbano, Afeganistão, Iraque, Síria, amanhã Irã), no contexto da guerra permanente de Israel contra o povo palestino. Uma frente bélica incessantemente alimentada pela indústria de armas lucrativas de tais potências.

A maioria dos meios de comunicação de todo o mundo, subservientes com os que os financiam, silenciam ou distorcem  as consequências de bombardeios diários sobre as populações que sofrem com a guerra, e têm mantido um silêncio cúmplice sobre as milhares de mortes, saques , os massacres diários, quando não os  justificam  em nome da sacrossanta luta contra o terrorismo. Acontece que, quando quem se atreve a quebrar o silêncio ou a manipulação da mídia subordinada à política oficial - como o soldado americano Bradley Manning e o ciberativista Julian Assange de WikiLeaks  em 2010, e, mais recentemente, Edward Snowden em 2013 – recai sobre eles toda a fúria dos governos ocidentais, os quais  os acusam  ​​de alta traição, os perseguem em todo o mundo e os condenam a privação da liberdade  ou exílio.

É urgente que os cidadãos comuns dos países ricos - ou aqueles que se autoproclamam "pacifistas" - se perguntem: Quem fornece as armas, aviões, tanques, bombas, metralhadoras utilizadas nestas guerras e atentados? Por que valorizam mais a vida de um europeu do que a de um iraquiano, um afegão, um sírio, um turco ou um voluntário do Médico Sem Fronteiras que morrem sob os escombros do hospital onde prestavam  ajuda solidária? Porque vemos que todos os governos aliados a frente bélica unida dos EUA lamentando os mortos nos ataques múltiplos, ontem, em Paris, como lamentaram os de Charlie Hebdo em 2014. No entanto, nenhum lamentou, por exemplo, os mortos em operações do exército francês no Mali - a partir de janeiro de 2013 até hoje - nem as vítimas de bombardeios diários no Oriente Médio.

Diante da dor causada pelos  recentes ataques na França e o medo de que isto se repita, diante da  dor das milhares de pessoas que fogem para a Europa da fome e da guerra em seu país, seria um erro deixar-se seduzir pela xenofobia partidos de ultra  direita, aceitar a subordinação da política externa europeia ao belicismo norte-americano ou aceitar sem resistência a supressão de direitos civis fundamentais. Hoje é o momento  para se informar  sobre a magnitude das partidas de armas que se vendem aos  países em guerra e os lucros gerados à  indústria europeia de armamento, se informar  sobre os interesses geopolíticos disfarçados de luta contra o fundamentalismo islâmico.

Então, de maneira organizada e consciente, temos de nos mobilizar ativamente para a retirada das tropas, a cessação do comércio de armas, pela  rejeição das forças reacionárias e antidemocráticas e pelo fortalecimento das liberdades civis. Porque hoje, num mundo dilacerado por guerras que alimentam os cofres das grandes corporações, a maior expressão de solidariedade com aqueles que sofrem a perda de entes queridos em guerras e ataques, é opor-se  ativamente à avidez dos lucros da indústria de armamento e a política externa belicosa dos Estados Unidos e seus aliados.

Pode parecer uma utopia, mas como dizia Eduardo Galeano “ para que serve a utopia, se não  para avançar  sempre até  o horizonte?” A experiência mostra que a proteção  e a segurança dos cidadãos não se consegue mobilizando  o exército - como a França, onde metade das 14.000 tropas mobilizadas opera em seu próprio território - ou fortalecendo um estado policial - como os EUA – mas promovendo  políticas igualitárias que, no plano interno, garantem o bem-estar de toda a população e, a nível internacional, fortalecer as relações fraternas, solidárias  e  respeitosas entre todos os países.

Vicky Torres, Ativista dos Direitos Humanos (Chile)

Tradução e adaptação: Valdir Silveira

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