quinta-feira, 2 de maio de 2013

O QUE OS FILOTRANSGENICOS ESCONDEM



        GLIFOSATO - O TÓXICO DOS CAMPOS

O agrotóxico básico da indústria da soja produz deformações neurais,intestinais e cardíacas, ainda que em doses muito inferiores às utilizadas nas lavouras. O estudo, realizado em embriões, é o primeiro deste tipo e refuta a suposta inocuidade do herbicida.

As comunidades indígenas e os movimentos camponeses denunciam a mais de 10 anos os efeitos sanitários dos agrotóxicos utilizados no plantio de soja. Porém sempre enfrentaram as desmentidas de três atores de peso: os produtores, as grandes empresas do setor e os âmbitos governamentais que impulsionam o modelo agropecuário.
O argumento recorrente é a ausência de 'estudos sérios' que demonstrem os efeitos negativos do herbicida. Há 13 anos da febre da soja, pela primeira vez, uma investigação científica de laboratório confirma que o glifosato (produto químico principal da indústria da soja) é altamente tóxico e provoca efeitos devastadores em embriões. Esta foi a conclusão do Laboratório de Embriologia Molecular do Conicet- UBA (Faculdade de Medicina) que, com doses até 1500 vezes inferiores às utilizadas nas pulverizações de soja, comprovou danos intestinais e cardíacos, deformações e alterações neurais. “Concentrações ínfimas de glifosato, com relação às utilizadas na agricultura, são capazes de produzir efeitos negativos na morfologia do embrião, sugerindo a possibilidade de que se esteja interferindo nos mecanismos normais de desenvolvimento embrionário”, destaca o trabalho, que também reafirma a urgente necessidade de limitar o uso do agrotóxico e investigar suas conseqüências no longo prazo. O herbicida mais utilizado à base de glifosato é comercializado com o nome de Roundup, da Monsanto, líder mundial do agronegócio.
O Laboratório de Embriologia Molecular conta com vinte e cinco anos de trabalho em investigações acadêmicas. Funciona na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires (UBA) e no âmbito do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet). É um espaço de estudo científico, formado por profissionais licenciados em bioquímica, genética e biologia. Durante os últimos quinze meses estudou o efeito do glifosato em embriões de anfíbios, desde a fecundação até que o organismo adquire as características morfológicas da espécie.
“Foram utilizados embriões de anfíbios, um modelo tradicional de estudo, ideal para determinar concentrações que podem alterar mecanismos fisiológicos que produzam prejuízo celular e/ou transtornos durante o desenvolvimento. E devido à conservação dos mecanismos que regulam o desenvolvimento embrionário dos vertebrados, os resultados são totalmente comparáveis com o que aconteceria com o desenvolvimento do embrião humano”, explica Andrés Carrasco, professor de embriologia, investigador principal do Conicet e diretor do Laboratório de Embriologia.
A equipe de investigadores diz que as diluições recomendadas para a aplicação pela indústria de agroquímicos oscilam entre um e dois por cento da solução comercial (10 a 20 ml para cada litro de água). Porém no campo é sabido – e reconhecido pelos meios do setor – que ao aplicar, o que deveria ser eliminado desenvolve resistência ao agrotóxico, sendo necessário utilizar concentrações maiores. O estudo afirma que a prática cotidiana varia entre 10 e 30 % (100 a 300 ml por litro de água).
Utilizando como parâmetro de comparação os referenciais teóricos (os recomendados pelas indústrias) e os reais (os utilizados nas lavouras), os resultados de laboratório são igualmente alarmantes. “Os embriões foram incubados por imersão em diluições com 01 (um) ml de herbicida em 5000 ml (cinco litros) de solução e cultivo embrionário, que representam quantidades de glifosato entre 50 e 1540 vezes inferiores às usadas no plantio de soja. O glifosato produziu diminuição do tamanho embrionário, sérias alterações cefálicas com redução dos olhos e do ouvido, alterações na diferenciação neural com perda de células neurais primárias”, afirma o trabalho, que se dividiu em dois tipos de experimentação: imersão em solução salina e por injeção de glifosato em células embrionárias. Em ambos os casos, e em concentrações variáveis, os resultados foram incontestáveis.
“Diminuição do comprimento do embrião, alterações que sugerem defeitos na formação do eixo embrionário. Alteração do tamanho da cabeça com comprometimento na formação do cérebro, redução dos olhos e da região do sistema auditivo, que poderiam indicar causas de deformação e deficiência na idade adulta”, alerta a investigação, que também avança sobre efeitos neurológicos graves: “Foram comprovadas alterações nos mecanismos de formação dos neurônios frontais, por uma diminuição de neurônios primários comprometendo o correto desenvolvimento do cérebro, compatíveis com alterações no fechamento normal do tubo neural e  outras deficiências do sistema nervoso”.
Quando os embriões foram injetados com doses de glifosato muito diluído (até 300.000 vezes inferiores às utilizadas nas aplicações nas lavouras), e os resultados foram igualmente devastadores. “Deformações intestinais e cardíacas.
Alterações na formação e/ou especificação da crista neural. Alterações na formação das cartilagens e ossos do crânio e da face, compatível com um aumento da morte celular programada”. Estes resultados implicam, traduzido, que o glifosato afeta um conjunto de células que tem como função a formação das cartilagens e dos ossos do rosto.

“Qualquer alteração na forma, por falhas na divisão celular ou de morte celular programada, conduz a deformações faciais sérias. No caso dos embriões, comprovamos a existência de menor quantidade de células nas cartilagens faciais embrionárias”, detalha Carrasco, que também destaca a existência de “deformações intestinais, que mostra alterações em sua rotação e tamanho”.
A soja semeada na Argentina ocupa 17.000.000 de hectares, em 10 estados e é comercializada pela Monsanto, que vende as sementes e o agrotóxico Roundup (feito a base de glifosato), que tem a propriedade de permanecer longos períodos no ambiente e viajar longas distâncias arrastados pelo vento e pela água. Aplica-se de forma líquida sobre a planta, que o absorve em poucos dias. O único que cresce depois de aplicado o veneno é a soja transgênica, modificada em laboratório. A publicidade da empresa classifica o glifosato como inofensivo para o ser humano.
Como todo herbicida é formado por um ingrediente 'ativo' (no caso o glifosato) e outras substâncias (chamadas coadjuvantes que, por segredo comercial, não se torna público em detalhe), cuja função é melhorar seu manejo e aumentar o poder destrutivo do ingrediente ativo. “O POEA (substância derivada de ácidos feitos a partir de gordura animal) é um dos aditivos mais comuns e mais tóxicos, que se degrada lentamente e se acumula nas células”, acusa a investigação, que descreve o POEA como um detergente que facilita a penetração do glifosato nas células vegetais e melhora a sua eficácia. Pesquisadores,de diversos países, tem concentrado seus estudos nos coadjuvantes e confirmado suas conseqüências.
O estudo experimental do Conicet-UBA, focaliza o elemento menos estudado e denunciado: o Roundup. “O glifosato puro introduzido por injeção em embriões em doses 10.000 e 300.000 vezes menores do que as usadas na lavoura tem uma atividade específica para danificar as células. É o responsável por anomalias durante o desenvolvimento do embrião e permite sustentar que não só os aditivos são tóxicos e, por outro lado, permite afirmar que o glifosato é causador de deformações por interferir nos mecanismos normais de desenvolvimento embrionário, interferindo nos processos biológicos normais.”
Carrasco resgata dezenas de denúncias – e quadros clínicos agudos – de camponeses, indígenas e bairros próximos a lavouras pulverizadas com o glifosato.
“As anomalias mostradas pela nossa investigação sugerem a necessidade de assumir uma relação causal direta com a enorme variedade de observações clínicas conhecidas, tanto oncológicas (câncer) como deformações reportadas na casuísticas popular ou médica”, adverte o professor de embriologia.
A investigação recorda que o uso de agrotóxicos na soja obedeceu a uma decisão política que não foi baseada num estudo científico-sanitário. “É inevitável admitir a imperiosa necessidade de haver estudado estes e outros efeitos antes de permitir seu uso”, denunciando o papel complacente do mundo científico (“a ciência está dirigida pelos grandes interesses econômicos, e não pela verdade e o bem estar dos povos”). É urgente realizar “estudos responsáveis que provem maiores danos colaterais do glifosato”.

3 comentários:

  1. Valdir, os avaliadores de risco de OGM não avaliam risco de inseticidas, herbicidas e outros praguicidas. Isso é papel do MAPA e da ANVISA, não tem nada a ver com os "filotransgênicos".
    Ainda assim, posso adiantar que a opinião da ANVISA e do MAPA sobre a toxicidade do glifosato é inteiramente diversa da expressa acima.
    Portanto, os filotransgênicos não estão escondendo nada.
    Cordialmente
    Paulo Andrade

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    1. Paulo, tu sabes a que me refiro. Não fujas do assunto visto que os danos comprovados do glifosato estão há muito sendo denunciados;bem como o glifosato está intrinsicamente ligado aos OGMs(soja).

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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