quarta-feira, 30 de julho de 2014

20 ANOS DE TRANSGENICOS: TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO OU REALIDADE


 

20 anos de transgenicos : Teorias da conspiração planejada ou realidade?

Lembro perfeitamente. Há  mais de uma  anos década, participava  de  um debate público, em Guarapuava, onde estava presente  um representante da Monsanto , uma empresa  que  começava  a despontar n o mundo das  sementes e dos transgênicos. O agrônomo Geraldo Berger , representante da Monsanto, enumerou uma lista de promessas que a biotecnologia traria para os agricultores e para a  alimentação, entre elas: mais produção, menos  agrotóxicos, mais diversidade e menos fome no mundo . E eu perguntei: por que uma empresa como a Monsanto, desenvolveria sementes  que exigem menos agrotóxicos se é  com os agrotóxicos que a empresa mais fatura?

Não me lembro, agora qual a sua resposta (o mais provável é que ele não foi muito convincente). Lembro-me  que durante todo o tempo dizia  a mim mesmo: "Valdir , para  aqui! Não o acuses de que no futuro eles vão produzir sementes que necessitaram mais agrotóxicos! Pare com as teorias da conspiração. Não temos dados que mostram isso, e além disso  nenhum agricultor  compraria  estas sementes ".

Poucos anos depois,  foram  publicadas  a primeira lista de 69 projetos de pesquisa, incluindo vários da Monsanto, tentando conseguir exatamente isso: produzir sementes tolerantes a herbicidas para poder pulverizar mais.  Agora, não existem sementes transgenicas que não tenham incorporadas uma tolerância a herbicidas. Era simplesmente uma oportunidade muito boa para a indústria   deixar escapar. Às vezes, as teorias da conspiração são verdadeiras.

O que quero dizer com isto. Que algumas tecnologias em mãos do capital são ferramentas perfeitas para transformar o sistema alimentar em algo que a indústria controle e a permita extrair mais lucros. E para aqueles que estão preocupados com o futuro dos agricultores, este é o mais grave impacto dos OGMs, os conhecidos transgênicos. É uma tecnologia que permite criar e controlar mega-fazendas industriais que expulsam as  pessoas  de suas propriedades  e destruir a agricultura camponesa. Metade das terras agrícolas na Argentina agora é plantada com  a soja pulverizadas por aviação agrícola, um avanço  que a indústria não teria conseguido  sem essa tecnologia.

Às vezes nos envolvemos em discussões "sim-não" sobre se os OGM são bons ou ruins para a alimentação, se têm potencial para criar inovações de “segunda geração”  interessantes para os agricultores; se há soja "sustentável" , se é bom que a  Syngenta faça doação de  algumas de suas licenças exclusivas para os países pobres. Ou se nós podemos criar sistemas de direitos  'sui generis' para amenizar de alguma forma o controle rígido que fizeram as corporações com seus sistemas de patentes .

No fundo são as discussões que às vezes nos desviam  do que deveria ser o nosso primeiro objetivo: deter  o agronegócio e conseguir que  os agricultores e as agricultoras possam viver dignamente da terra e alimentar o mundo.

Fonte : Henk Hobbelink – Fundador e Coordenador Geral  da GRAIN

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